Tomar café da manhã depois das 9h pode afetar o equilíbrio hormonal e aumentar o risco de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2.
Estudos mostram que quem toma café da manhã mais cedo tem menor risco de resistência insulínica, obesidade e síndrome metabólica. Além disso, o horário da primeira refeição influencia diretamente os níveis de cortisol — hormônio ligado ao estresse e à regulação da energia — e o funcionamento do relógio biológico.
O cortisol é um hormônio que tem um pico nos primeiros 30 a 45 minutos após o despertar e queda gradual ao longo do dia. O pico ajuda a pessoa a se sentir alerta e aumenta ligeiramente a glicose para fornecer energia através da mobilização dos estoques energéticos.
Durante um jejum prolongado, os níveis de insulina diminuem e o corpo começa a usar estoques de gordura como fonte de energia. Isso pode melhorar a sensibilidade à ação da insulina e reduzir os níveis de açúcar e gordura no sangue.
Mas o horário do jejum importa. Comer muito tarde (café da manhã e/ou jantar) e pular o café da manhã pode desalinhar o relógio biológico e contribuir para distúrbios metabólicos, segundo o médico endocrinologista Fernando Valente.
O que é o cortisol e por que ele importa de manhã? Cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais, que têm várias funções, como regular o metabolismo, modular os níveis de açúcar no sangue, de pressão arterial e de inflamação, tendo uma influência direta no ciclo sono-vigília. Ele é responsável pelo ânimo, pelo vigor, pelo foco e tem uma função positiva na imunidade.
“Embora seja conhecido como o ‘hormônio do estresse’, ele é essencial para manter a nossa energia, foco, imunidade e metabolismo em equilíbrio. Afinal, o ‘estresse’ de forma equilibrada nos promove movimento, ação e nos tira da inércia”, explica a nutricionista clínica e comportamental e terapeuta integrativa Adriana Loyola.
O pico matinal do cortisol é saudável e necessário, porque ele nos ajuda a liberar glicose para gerar energia, melhora a concentração, e até influencia positivamente o humor e a motivação.
Qual a relação entre jejum prolongado, glicose e saúde metabólica? Valente explica que comer muito tarde (café da manhã e/ou jantar) e pular o café da manhã pode desalinhar o relógio biológico e contribuir para distúrbios metabólicos.
O metabolismo humano é mais eficiente pela manhã e comer nas primeiras horas do dia – antes das 9h, principalmente – melhora a regulação da glicose, de insulina e do apetite ao longo do dia, destaca a médica endocrinologista Daniela Fernandes.
Valente defende que o ideal é tomar café da manhã cedo (antes de 8 horas). Isso se alinha ao pico de cortisol e, de acordo com alguns estudos, pode reduzir o risco de obesidade, diabetes e doenças metabólicas. Entre 7 e 8 horas o corpo está mais preparado para metabolizar os nutrientes de forma eficiente, segundo o médico.
Loyola afirma que mais importante do que comer de 3 em 3 horas ou fazer jejum é a constância do número de refeições do dia, calorias e meta proteica que o indivíduo faz durante o longo prazo.
Há risco real de desenvolver doenças por tomar café tarde? Estudos da crononutrição mostram que postergar o café da manhã para depois das 9h da manhã está associado a um aumento do risco de resistência à insulina e alterações na regulação da glicose. Isso acontece porque o corpo é mais sensível à insulina nas primeiras horas do dia, e ignorar essa janela pode desorganizar o ritmo circadiano e gerar estresse metabólico, explica Loyola.
Além disso, quem atrasa muito a primeira refeição tende a concentrar a ingestão calórica mais para o final do dia, o que também está ligado ao aumento de peso, inflamação e desregulação hormonal — fatores que favorecem o desenvolvimento do diabetes.
“Isso não significa que todo café da manhã tardio será prejudicial. Mas para pessoas com tendência à hipoglicemia, histórico familiar de diabetes ou que já apresentam resistência à insulina, atrasar demais a alimentação pela manhã pode piorar o quadro”, diz Loyola.
Valente afirma que tomar o café da manhã tarde pode resultar em desalinhamento do ritmo circadiano, maior risco de obesidade, diabetes, hipertensão, outras doenças metabólicas e até doenças cardiovasculares.
Estudos têm mostrado que o jejum intermitente faz a pessoa emagrecer, mas ocorre também uma grande perda de massa magra, o que não é bom para um emagrecimento saudável.
Uma pesquisa publicada em 2020 por cientistas da Universidade da Califórnia em uma das mais renomadas revistas de medicina, a "Jama International Medicine", mostrou que, apesar da perda de peso na balança das pessoas submetidas ao jejum, o maior volume perdido era de massa magra e não de gordura.
Um estudo feito pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica da Universidade de São Paulo (USP) também encontrou o mesmo resultado. A pesquisa foi feita em ratos e comparou os animais em jejum intermitente com os que recebiam livre alimentação. Ao fim de 12 semanas, a pesquisa descobriu que houve, sim, redução de peso entre quem fazia jejum, mas com aumento da reserva de gordura. Ainda foi identificado como alerta para o longo prazo a sobrecarga do pâncreas.
O que comer para ajudar a equilibrar hormônios de manhã? Para favorecer o equilíbrio hormonal pela manhã, o ideal é priorizar alimentos que sustentem a energia de forma estável, sem provocar picos de glicose ou estresse metabólico, como:
Proteínas de boa qualidade: como ovos, iogurte integral, queijos magros, ou proteínas vegetais bem combinadas. Esses alimentos são essenciais, pois ajudam a modular o cortisol e sustentam os níveis de glicose de forma gradual.
Gorduras boas: abacate, azeite, castanhas ou sementes, por exemplo, auxiliam na produção de hormônios esteroides, como o estrogênio, a progesterona e até o próprio cortisol, além de oferecerem saciedade e estabilidade emocional ao longo da manhã. Água morna com limão ajuda na hidratação e na digestão Chás naturais, como chá verde ou hibisco. Café preto sem açúcar.
Os melhores alimentos para a regulação do cortisol, especificamente pela manhã, são: ovos, iogurte natural ou kefir, tofu ou grão-de-bico para vegetarianos, banana, aveia, sementes de abóbora, frutas com casca como maçã, pêra, frutas vermelhas, aveia integral, farelo de aveia, batata-doce em pequenas quantidades, abacate, castanha do Pará, nozes e amêndoas, segundo Fernandes.
Os carboidratos podem ou não estar presentes no café da manhã, dependendo da saúde metabólica e da fase do ciclo (no caso das mulheres). Não há problema em diminuir os carboidratos pela manhã se o corpo estiver adaptado e houver boa resposta energética, explica Loyola. Se o indivíduo for ingerir carboidratos pela manhã, o ideal é que sejam os complexos.
Carboidratos complexos são encontrados em grãos integrais, legumes e tubérculos (como batatas e mandioca). Além de glicose, são ricos em fibras, vitaminas e minerais, que são importantes para a saúde de forma geral.
“Ficar sem carboidratos de manhã não é necessariamente um problema. Pode ser positivo em dietas cetogênicas, mas a ausência total de carboidratos pode resultar, para algumas pessoas, em cansaço e irritabilidade. É importante que o café da manhã tenha fibras, proteínas de alta qualidade e gorduras boas (insaturadas)”, acrescenta Valente.
G1
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