• prefeutura-de-barao.jpg
  • roma.png
  • vamol.jpg
  • WhatsApp_Image_2025-06-06_at_12.28.35_2.jpeg

Uma descoberta inovadora da ciência revela que o cérebro humano é capaz de formar memórias frias — registros neuronais de experiências com temperaturas baixas — que podem influenciar diretamente o metabolismo corporal, mesmo na ausência do frio.

peso

Publicado na revista Nature, o estudo liderado pelo professor Tomás Ryan, do Trinity College Dublin, mostra que a ativação dessas memórias no hipocampo pode estimular artificialmente a termogênese, processo pelo qual o corpo gera calor, sugerindo novas estratégias terapêuticas para doenças metabólicas como obesidade e câncer.

Como o cérebro aprende a prever o frio Utilizando camundongos, os pesquisadores treinaram os animais a associar sinais visuais a ambientes frios de 4 °C. Após algumas sessões, ao serem expostos apenas aos sinais, em temperatura ambiente, os ratos ativavam sua termogênese como se estivessem de fato no frio. Essa resposta metabólica antecipada, chamada de termogênese preditiva, foi interpretada como um reflexo de memórias frias formadas no cérebro.

O estudo identificou essas memórias em células engramas no hipocampo — estruturas neurais responsáveis por armazenar lembranças. Com técnicas de optogenética, os cientistas puderam estimular artificialmente essas células, observando o aumento da geração de calor.

Quando as células foram inibidas, os camundongos não mais reagiam aos sinais visuais que antes evocavam o frio, comprovando a existência e a função prática dessas memórias.

A gordura marrom como aliada do cérebro O aumento do metabolismo observado no experimento foi atribuído à ativação do tecido adiposo marrom, ou gordura marrom, que é responsável por aquecer o corpo em ambientes frios. Segundo a professora Lydia Lynch, coautora do estudo, o cérebro não apenas aprende a reconhecer o frio, mas também passa a controlar como as células de gordura marrom devem reagir, funcionando como um verdadeiro termostato condicionado pela experiência.

Esse mecanismo de regulação térmica aprendida representa uma conexão poderosa entre mente e corpo, abrindo possibilidades de tratamento para distúrbios em que a termorregulação e o metabolismo estão comprometidos — como é o caso da obesidade, da resistência à insulina e de certos tipos de câncer.

Condicionamento, memória e comportamento O conceito de associar estímulos a respostas fisiológicas tem raízes no condicionamento clássico de Ivan Pavlov, e este novo estudo reforça que o cérebro vai além de memorizar eventos ou emoções: ele armazena experiências corporais completas, como frio, dor, fome ou inflamação, através de redes neurais específicas.

As memórias frias, portanto, ilustram como experiências sensoriais podem moldar não apenas o comportamento, mas também a fisiologia. Compreender essa interação pode ajudar a decifrar aspectos mais complexos da mente humana, como a origem das emoções, da empatia e das decisões subconscientes.

Novas fronteiras para a neurociência e a medicina A pesquisa exemplifica uma abordagem interdisciplinar poderosa, unindo neurociência, biologia térmica e metabolismo. Segundo o Dr. Aaron Douglas, coautor do estudo, a manipulação das memórias frias pode futuramente servir como terapia para modular o metabolismo em humanos.

Além disso, o estudo oferece pistas sobre como o cérebro pode influenciar a saúde física com base em experiências passadas — até mesmo sem um estímulo externo presente. Essa descoberta é um passo significativo rumo ao entendimento das relações profundas entre corpo, mente e ambiente.

Catraca Livre

Foto: © Liubomyr Vorona/istock