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O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo pelas propriedades organolépticas (aroma, sabor, textura) e efeito estimulante. Sua composição química é variável e dependente das espécies de café utilizadas, sendo as mais comuns a Coffea arabica (cerca de 70% da produção mundial) e a Coffea canephora VAR robusta (mais de 25%).

O aroma e o sabor do café arábica são mais apreciados que os do robusta, sendo por isso mais valorizado comercialmente. Por outro lado, o café robusta é mais resistente ao ataque de pragas durante o seu cultivo e é especialmente utilizado para aumentar o corpo e a espuma de algumas bebidas, assim como para a produção de café solúvel.

Além da influência da espécie de café, o tipo de processamento a que os grãos verdes são sujeitos (via seca, úmida ou mista, descafeinização), o grau de torra e de moagem, assim como o método de preparação da bebida (filtro, expresso, cafeteira, fervido etc) e a quantidade contribuem para a variação da composição química da bebida final.

Existem diferentes técnicas culinárias para o preparo do café. No Brasil, as formas de preparo mais comuns são: café fervido ou estilo escandinavo (sem filtração do pó), filtrado (filtro de papel), café à brasileira (filtro de pano) e café expresso, além do uso do café instantâneo ou solúvel.

O café é rico em compostos bioativos: a cafeína (1,3,7-trimetil-xantina), estimulante do sistema nervoso central e do músculo cardíaco; os ácidos clorogênicos (cafeoilquínicos, dicafeoilquínicos, feruloilquínicos, ep-cumaroilquínicos), que possuem atividade anticancerígena e propriedades antioxidantes; e os diterpenos cafestol e kahweol, relacionados com o metabolismo lipídico (dislipidemias).

Os efeitos do consumo de café irão depender da qualidade e quantidade dos compostos químicos ingeridos, estando o consumo moderado normalmente descrito como a ingestão de três a cinco doses diárias de café (aproximadamente 150 mg a 300 mg de cafeína/dia)

Proporção de cafeína:

Café expresso (30 ml) = 80 mg cafeína

Café coado (250 ml) = 80 mg cafeína

Red Bull (200 ml) = 80 mg cafeína
Propriedades do Café
Efeito estimulante

A cafeína (1,3,7-trimetilxantina) é a principal substância presente. Os efeitos comportamentais mais notáveis ocorrem após a ingestão de doses baixas a moderadas (50 mg - 300 mg), observando melhora no estado de alerta, da energia, da capacidade de concentração, do desempenho em tarefas simples, da vigilância auditiva, do tempo de retenção visual e diminuição da sonolência e do cansaço. Indivíduos sensíveis podem apresentar: taquicardia, palpitações, insônias, ansiedade, tremores, dores de cabeça e náuseas.

Café e doenças neurodegenerativas

Café e doença de Parkinson (DP): estudos epidemiológicos sugerem que o consumo de café está inversamente associado ao risco de DP, especialmente em indivíduos do sexo masculino (relação dose-dependente). Num estudo de corte, homens que consumiam pelo menos três a quatro chávenas de café por dia apresentavam um risco cinco vezes menor de desenvolver Parkinson em relação aos não consumidores.
Café e doença de Alzheimer: estudos epidemiológicos recentes apontam para um papel neuroprotetor do café/cafeína em relação ao desenvolvimento de Alzheimer.
Café e sistema digestivo

Efeitos gastrointestinais:
A azia é o sintoma gastrointestinal mais descrito após a ingestão de café, por irritação direta na mucosa esofágica ou pelo refluxo gastroesofágico.

A cafeína e a substância 5-hidroxitriptamidas (componentes principais da cera do café) parecem ser parcialmente responsáveis pela irritação gástrica. Alguns processos tecnológicos reduzem a camada cerosa (polimento, tratamento com vapor de água e/ou descafeinização dos grãos verdes) e ajudam a diminuir esse efeito. Foram desenvolvidos os chamados stomach-friendly coffees (cafés amigos do estômago), direcionados para indivíduos que apresentam sensibilidade gástrica, sendo já comercializados em alguns países como, por exemplo, a Alemanha.

Alguns indivíduos relatam diarreia ou maior regularidade intestinal quando consomem café, precisando limitar ou evitar o consumo.

Absorção de ferro
A ingestão de café imediatamente ou até uma hora após a refeição reduz em cerca de 40% a absorção do ferro não heme (vegetal).

Café e cálculos renais:
Observa-se associação inversa entre o consumo de café e a presença de cálculos. Diminuição do risco de desenvolvimento de cálculos renais em 10% a 9%, com o consumo diário de 240 ml de café ou descafeinado, respectivamente.

Café e colesterol sérico:
Inúmeros estudos têm associado o consumo de café a um aumento dos níveis séricos do colesterol total e LDL (lipoproteínas de baixa densidade). Este aumento não se encontra associado ao consumo de todas as bebidas de café, sendo o seu método de preparação crucial no efeito hipercolesterolêmico.

Enquanto o consumo de café fervido e não filtrado é responsável por um aumento (dose-dependente) dos níveis de colesterol, foi demonstrado que o consumo de café de filtro possui pouca ou nenhuma associação com a concentração sérica de colesterol.

Consumo
Não há evidência de que o consumo moderado de café (três a cinco xícaras diárias) por indivíduos saudáveis seja prejudicial à saúde. Deve ser evitada por indivíduos mais sensíveis aos efeitos da cafeína (sentem taquicardia, ansiedade, dor de cabeça) e indivíduos que tenham alterações gastrointestinais como gastrite, refluxo esofágico, úlcera, diarreia e doenças intestinais.

Recomenda-se consumo moderado por indivíduos hipertensos, fumantes e sujeitos a situações de stress, grupos mais suscetíveis ao efeito vasopressor da cafeína.

Por Cris Perroni

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