A farmacêutica Pfizer anunciou nesta quarta-feira (8) que três doses do imunizante contra a Covid-19 produzido em parceria com a BioNtech são capazes de neutralizar a variante Ômicron do novo coronavírus. Segundo a empresa, a partir da terceira aplicação os anticorpos neutralizantes da nova cepa aumentam cerca de 25 vezes, na comparação com a proteção após duas doses.
De acordo com resultados apresentados pelo laboratório, o soro obtido de vacinados um mês após receber a vacinação de reforço neutralizou a variante Ômicron em níveis que são comparáveis ao observado para a proteína de pico Sars-CoV-2 de tipo selvagem após duas doses. “Embora duas doses da vacina ainda possam oferecer proteção contra doenças graves causadas pela cepa Ômicron, fica claro a partir desses dados preliminares que a proteção é melhorada com uma terceira dose de nossa vacina”, disse Albert Bourla, presidente e CEO da Pfizer, no comunicado oficial da empresa.
No comunicado, a farmacêutica afirmou que duas doses ainda protegem contra a forma grave da Covid-19 causada pela cepa identificada na África do Sul no mês passado, já que 80% dos antígenos da spike (parte do vírus responsável pela entrada na célula humana), reconhecida pelas células T (responsáveis por funções imunológicas de efetuação de respostas antivirais), não foram afetados pelas mutações da Ômicron.
Mesmo com os resultados preliminares dos estudos, a Pfizer e a BioNtech afirmaram que continuarão o planejamento, começado no dia 25 de novembro, de produzir um imunizante adaptado às mutações da nova variante. As empresas esperam que os primeiros lotes estejam prontos para entrega em 100 dias, dependendo da aprovação regulamentar.
Pesquisa realizada com células de camundongos aponta um caminho promissor para novas linhas de estudo com foco no tratamento do câncer de mama triplo-negativo (TNBC, na sigla em inglês), um tumor agressivo e com alta probabilidade de metástase.
Um grupo de pesquisadores liderados pelo casal de brasileiros Renata Pasqualini (bioquímica) e Wadih Arap (cientista e oncologista) identificou um pequeno conjunto de aminoácidos (um peptídeo com a sequência CSSTRESAC) capaz de se ligar a um receptor alternativo para a vitamina D. Chamado de PDIA3, esse receptor é encontrado na membrana de macrófagos (importantes células de defesa do organismo) que se infiltram nos tumores de mama triplo-negativo e causam imunossupressão. De acordo com a pesquisa, a administração sistêmica de CSSTRESAC levou à elevada expressão de citocinas antitumorais e à modulação da resposta celular. Em conjunto, esses dois fatores ativaram a resposta imune e reduziram o crescimento dos tumores nos camundongos. O resultado do trabalho foi publicado na revista científica eLife.
“Nossa estratégia é diferente e certamente complementa as abordagens mais convencionais. Em vez de tratarmos diretamente as células tumorais, usamos CSSTRESAC para modular e induzir uma resposta imune mais eficiente. Essa estratégia, se combinada à cirurgia, quimioterapia e radioterapia, pode oferecer uma alternativa mais robusta para o tratamento de tumores de mama triplo-negativo, que normalmente são muito agressivos e de difícil controle clínico local e sistêmico”, afirma Pasqualini, em entrevista à Agência FAPESP.
A pesquisadora lembra que as conclusões ainda são baseadas em modelos experimentais em camundongos, mas afirma que os dados são animadores. “Ainda há um caminho a percorrer até chegar aos ensaios clínicos de fase 1 em pacientes humanos. No entanto, os resultados publicados são promissores, justificando o avanço dessa linha de pesquisa visando ao desenvolvimento de estudos de tradução clínica na próxima fase.” Pasqualini, juntamente com Arap, coordena atualmente um laboratório na Universidade Rutgers, em Nova Jersey (Estados Unidos). Neste trabalho, um terço dos coautores é brasileiro, incluindo a primeira autora, Fernanda Iamassaki Staquicini, que foi bolsista da FAPESP no início dos anos 2000.
Esse trabalho também teve apoio da FAPESP por meio de dois projetos (12/24105-3 e 20/13562-0) coordenados pelo professor Mauro Javier Cortez Véliz, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
Panorama
O câncer de mama é o segundo tipo de tumor mais comum no mundo, com estimativa de aproximadamente 2,3 milhões de novos casos por ano. Representa quase 25% dos cânceres em mulheres e também é a causa mais frequente de morte pela doença nessa população, com 684 mil óbitos estimados ao ano. O tipo triplo-negativo (TNBC) compreende entre 10% e 20% dos registros de câncer de mama.
No Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), excluídos os tumores de pele não melanoma, o de mama também é o mais incidente em mulheres em todas as regiões, com taxas maiores no Sul e Sudeste. Para este ano, são estimados 66.280 novos casos no país (43,7 casos por 100 mil mulheres). É também a primeira causa de morte por câncer na população feminina brasileira.
O TNBC é considerado um tumor agressivo, geralmente com tamanho maior no início, e de rápido crescimento, com chances de metástase. Apresenta também probabilidade maior de recidiva após o tratamento.
É diagnosticado por meio de exames que analisam as células cancerosas – se elas não tiverem receptores de estrogênio ou progesterona e não produzirem a proteína HER2, o câncer de mama é considerado triplo-negativo.
A disseminação metastática geralmente ocorre por meio da eliminação de linfócitos (células de defesa) infiltrantes de tumor e da secreção de citocinas imunoinibitórias, principalmente os macrófagos associados ao câncer. Por causa desse maior número de linfócitos infiltrantes, o TNBC é mais propenso a responder à imunoterapia, o que levou os pesquisadores a investigar as funções imunorreguladoras mediadas pelo peptídeo CSSTRESAC.
Nova técnica
Na pesquisa, o grupo aplicou a tecnologia de exibição de fago in vivo para isolar peptídeos encontrados no tumor como uma estratégia para descobrir alvos não malignos. Essa técnica captura proteínas ou frações delas que interagem com moléculas-alvo.
Identificaram, assim, o peptídeo cíclico (CSSTRESAC) que se liga especificamente ao receptor de vitamina D, a proteína dissulfeto-isomerase A3 (PDIA3), expressa na superfície dos macrófagos associados ao tumor.
“A administração sistêmica de CSSTRESAC em camundongos com TNBC mudou o perfil de citocinas em direção a uma resposta imune antitumoral e retardou o crescimento do tumor. Além disso, o CSSTRESAC permitiu a entrega teranóstica direcionada ao ligante para tumores. Um modelo matemático confirmou nossos achados experimentais”, concluem os cientistas no artigo.
Teranóstico é um novo conceito que vem sendo usado na medicina nuclear para tratamento de câncer e transforma, simultaneamente, em ferramenta para diagnóstico e para tratamento os radiofármacos usados diretamente em tumores.
“Nosso próximo objetivo é avaliar a integração dessa estratégia com outras terapias já aprovadas e em uso para o tratamento do câncer de mama triplo-negativo. A radioterapia, por exemplo, é efetiva a curto prazo, mas ainda frustra porque ocorre com frequência a recidiva dos tumores localmente ou em metástases em outros órgãos. Nesse sentido, a combinação da radioterapia com o nosso peptídeo tem chance de melhorar o prognóstico das pacientes com o controle local do tumor”, explica Staquicini.
A parceria do grupo começou há alguns anos e inclui um trabalho desenvolvido no ICB-USP que apontou como a Leishmania explora vias de sinalização de receptores do tipo Toll endossomais via TLR9 (responsável pelo reconhecimento do DNA não metilado de patógenos, como bactérias, vírus e parasitas) para inibir a função microbicida de macrófagos, favorecendo sua proliferação intracelular no hospedeiro. Esse artigo foi publicado em 2019 no The Journal of Clinical Investigation insight.
Atualmente, o laboratório dirigido por Pasqualini e Arap é reconhecido internacionalmente por contribuições nas áreas de biologia vascular, mecanismos de progressão em vários tipos de câncer e de desenvolvimento de abordagens terapêuticas inovadoras. Nesse aspecto, chama a atenção o potencial demonstrado da relevância clínica de moléculas com efeito terapêutico dirigidas às células-alvo, aumentando a atividade biológica e reduzindo efeitos colaterais.
A capacidade de mapear marcadores moleculares, dentro do conceito de “códigos postais” em vasos sanguíneos do corpo humano, foi aprimorada ao longo de duas décadas pelo grupo e por cientistas de outros centros de estudo. Esses “códigos” consistem em uma tecnologia de mapeamento das moléculas que proporciona o direcionamento dos medicamentos exclusivamente nas células-alvo do organismo.
É uma analogia com o CEP, ou seja, a ciência encontra o “endereço exato” de células doentes, principalmente tumores, e envia uma “encomenda” capaz de eliminar especificamente a doença, sem afetar a vizinhança.
Agência Fapesp
Foto: Divulgação Sociedade Brasileira de Mastologia
Secretaria de Saúde de Floriano-PI realizará campanha de vacinação antirrábica. O secretário James Rodrigues, da Saúde, já está com a equipe organizando todos os detalhes. Veja a entrevista com o secretários e um dos colaboradores da pasta.
A farmacêutica britânica GSK informou, nesta terça-feira (7), que sua terapia contra a covid-19 baseada em anticorpos, desenvolvida em parceria com a norte-americana Vir Biotechnology, é eficaz contra todas as mutações da nova variante Ômicron do coronavírus. A empresa citou novos dados de estudo em estágio inicial.
Os dados, que ainda serão publicados em um periódico médico sujeito ao crivo da comunidade científica, mostram que o tratamento da empresa, batizado de sotrovimab, funciona contra todas as 37 mutações identificadas até o momento na proteína spike da variante Ômicron, disse a GSK em comunicado.
Na semana passada, outros dados pré-clínicos mostraram que o remédio funcionou contra mutações cruciais da Ômicron. O sotrovimab foi concebido para se ater à proteína spike na superfície do coronavírus, mas foi descoberto que a Ômicron tem um número anormalmente alto de mutações nessa proteína.
"Esses dados pré-clínicos demonstram o potencial de nossos anticorpos monoclonais serem eficazes contra a variante mais recente, Ômicron, além de todas as outras variantes preocupantes definidas até o momento pela Organização Mundial da Saúde", disse o chefe científico da GSK, Hal Barron.
A GSK e a Vir estão criando em laboratório os chamamos pseudovírus, que contêm importantes mutações do coronavírus de todas as possíveis variantes que já surgiram, e então realizam testes sobre sua vulnerabilidade ao tratamento sotrovimab.