A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o Instituto Butantan a testar um soro desenvolvido contra a covid-19. Trata-se do primeiro medicamento deste tipo no país.
O Butantan tinha documentações pendentes junto à agência desde março, quando o pedido foi feito.
Agora, o instituto já pode começar a recrutar voluntários para tomarem a infusão.
Fabricado a partir do plasma do sangue de cavalos que receberam o coronavírus inativado, o soro foi descrito no fim do ano passado como "altamente potente" pelo diretor do Butantan, Dimas Covas.
Os trabalhos começaram em agosto do ano passado, e pelo menos 3.000 ampolas já estão disponíveis para a primeira rodada de testes clínicos.
A aproximação do inverno dispara um alerta entre os especialistas que projetam que a terceira onda da covid-19 está próxima de estourar no Brasil. Os estudiosos ouvidos pelo portal UOl destacam que o ritmo lento da vacinação e o afrouxamento da quarentena nos estados podem colaborar para isso. Foi nesse cenário que os casos dispararam na Europa, atingindo países como França, Itália, Polônia, República Tcheca e Hungria.
A reportagem do UOL destaca que, em maio, a vacinação no Brasil caiu 17% em relação a abril. A principal razão para essa queda foi a falta de insumos, que interrompeu a produção das vacinas CoronaVac, pelo Instituto Butantan, e da AstraZeneca, da Fiocruz.
Se não bastasse a baixa cobertura vacinal e a baixa adesão ao isolamento, ainda tem a circulação das novas variantes do coronavírus no país. Já se sabe que a cepa brasileira P.1, que se espalhou pelos estados, é mais transmissível.
“Como a P1 é mais transmissível, cremos que existirá número maior de infectados em caso de nova onda”, diz Ana Marinho, imunologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Além da P.1, recentemente, foram identificados no Brasil os primeiros casos da variante indiana, que tem sido relacionada à explosão de infecções no país asiático.
De acordo com o infectologista Marco Aurélio Sáfadi, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a chegada do inverno preocupa ainda mais. “Vírus respiratórios gostam de frio e têm sua capacidade de sobrevivência aumentada” nessa época do ano”, afirma.
Com a produção de CoronaVac interrompida desde o dia 13 de maio por falta de insumos, o Instituto Butantan recebe nesta terça-feira (25) 3 mil litros de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) para retomar a fabricação do imunizante contra a covid-19. A entrega estava prevista inicialmente para quarta-feira (26).
Após a retomada da produção, a expectativa é entregar mais 5 milhões de doses da vacina. A estimativa ainda está abaixo do esperado. A previsão inicial era de receber 4 mil litros de insumos para gerar 7 milhões de doses. A redução foi anunciada pela China no dia 18.
O Butantan e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmaram que os recentes ataques do presidente Jair Bolsonaro à China têm interferido diretamente no cronograma de liberação de novos lotes de insumos. Na semana passada, Doria reiterou que o atraso se deve a uma "questão política e diplomática", mas demonstrou confiança em uma liberação em breve.
Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros aponta que a vacina CoronaVac foi 42% efetiva "no cenário de mundo real" contra a Covid-19, considerando apenas pessoas vacinadas com mais de 70 anos e em um período de extensa transmissão da variante P.1., detectada inicialmente em Manaus. Além disso, o estudo concluiu que a proteção contra a doença só se torna efetiva 14 dias após a aplicação da segunda dose e que a imunidade adquirida diminui conforme aumenta a idade do grupo imunizado (veja percentuais abaixo).
O estudo foi publicado em uma plataforma de pré-prints, ou seja, é uma versão prévia que ainda não passou pela revisão de outros cientistas, nem foi chancelado por uma revista especializada. A pesquisa foi conduzida por pesquisadores reunidos no grupo Vaccine Effectiveness in Brazil Against COVID-19 (Vebra Covid-19) e foi apoiada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Considerando os dados 14 dias após a 2ª dose, a efetividade foi de:
70-74 anos - 61,8% de efetividade (com intervalo de confiança de 95%, indo de 34,8 a 77,7), 75-79 anos - 48,9% (com intervalo de confiança de 95%, indo de 23,3 a 66,0) 80 anos ou mais - 28,0% (com intervalo de confiança de 95%, indo de 0,6 a 47,9)
Esses achados ressaltam a necessidade de manter intervenções não farmacêuticas (máscaras, distanciamento social e higiene das mãos) enquanto a vacinação em massa com CoronaVac é usada como parte de uma resposta epidêmica.
A taxa de eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado comparado com o grupo não vacinado. No caso, a eficácia final dos estudos foi de 62,3%. Já a taxa de efetividade reflete o impacto real da vacina na população. Em outras palavras: mede o quanto a vacina consegue reduzir os casos de uma doença na vida real. Os dois números não são comparáveis entre si. O pesquisador Julio Croda disse ao G1 que o resultado era esperado, mas ao mesmo tempo vai exigir acompanhamento da aplicação da vacina nos próximos meses.
"Geralmente, os idosos respondem pior à vacinação. É assim para a Influenza também. Teremos que, muito provavelmente, discutir com os dados de hospitalização e óbitos se devemos ou não priorizar esse grupo para revacinação quando isso (queda da efetividade) começar a acontecer" - Julio Croda, que assina a pesquisa. Os pesquisadores conduziram o estudo entre 17 de janeiro e 29 de abril de 2021, com adultos com mais de 70 anos do estado de São Paulo. Ao todo, os autores contaram com a participação de 7.950 pessoas com uma idade média de 76 anos — os idosos estavam divididos em pares para comparação dos resultados, com pacientes com Covid e um grupo controle, sem o teste PCR negativo para o coronavírus.