Pesquisadores brasileiros e britânicos desenvolveram um biossensor eletroquímico capaz de detectar a infecção por febre amarela ao utilizar cápsulas de café recicladas. Além de tornar o sensor mais sustentável, a iniciativa deixa a ferramenta mais barata por ser construída a partir de produtos reciclados.
A ideia partiu da dificuldade de diagnosticar a infecção, que tem sintomas semelhantes aos de outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como a chikungunya, a dengue e a zika.
Desenvolvido por Cristiane Kalinke durante seu estágio de pós-doutoramento na Inglaterra, o projeto envolveu pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade de São Paulo, além da Faculdade de Ciência e Engenharia da Universidade Metropolitana de Manchester (Inglaterra), com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O sensor é feito em impressora 3D e cumpre os critérios estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para testes diagnósticos em locais remotos ou com poucos recursos.
O dispositivo funciona com eletrodos impressos em ácido polilático de cápsulas de café processadas e recicladas, que ficam em sua superfície. A reação eletroquímica acontece por meio da condutividade dos filamentos com nanotubos de carbono e negro de fumo como aditivos. Os fragmentos do DNA da febre amarela se encaixam na sequência genética de apenas uma gota de amostra de soro sanguíneo dos pacientes. Por meio da diferença de sinais antes e depois dessa ligação, o diagnóstico é feito. Além disso, também foi possível diferenciar resultados em amostras que con tinham o vírus da febre amarela e da dengue, o que permitiu o diagnóstico preciso da doença.
“Sensores miniaturizados como esse poderiam ser facilmente transportados a regiões ou comunidades remotas, onde a febre amarela é mais comum. Isso é especialmente importante no caso de doenças comuns em países tropicais e consideradas negligenciadas, que carecem tanto de estratégias de prevenção quanto de tratamento”, disse a pesquisadora.
Esta terça-feira, 29 de agosto, é a data que celebra o Dia Nacional de Combate ao Fumo, o principal fator causador do câncer de pulmão. Esse tipo de câncer é o segundo mais comum em todo mundo, depois do de mama. No Brasil, é o quarto em incidência, atrás dos cânceres de mama, próstata e intestino. Com o intuito de sensibilizar os fumantes a largar o vício, representantes da Fundação do Câncer estarão hoje na rodoviária do Rio de Janeiro para distribuir panfletos com um QR code que direciona para a Cartilha Prática para Parar de Fumar, com orientações a quem deseja abandonar o cigarro. A ação ocorre das 7h às 18h.
Quem passar pelo local poderá também participar da campanha interativa #FumoTôFora, tirando foto e escolhendo a sua mensagem para postar nas redes sociais: "Sou vitorioso! Larguei o cigarro", "Este ano, paro de fumar", "Abaixo o vape!" e "Cigarro nunca mais".
As equipes estão no setor de embarque superior do terminal, próximo à praça de alimentação e à passarela central. Os painéis eletrônicos da rodoviária exibirão mensagens de conscientização às cerca de 40 mil pessoas que circulam diariamente no terminal. A campanha se estenderá ao ambiente virtual, nas redes sociais da Fundação do Câncer e da rodoviária do Rio.
Outros oito terminais rodoviários do país sob gestão da Socicam, que recebem juntos 4,1 milhões de passageiros por mês, exibirão mensagens contra o tabagismo. Participam da campanha os terminais Tietê, Barra Funda e Jabaquara (na capital paulista), Ribeirão Preto, Campinas e Jundiaí (SP), Campo Grande (MS) e Brasília (DF). Outros parceiros da iniciativa são a Ecoponte e a Onbus, que divulgarão a mensagem da campanha nos painéis de LED da ponte Rio-Niterói e em pontos de ônibus e mobiliário urbano.
O diretor-executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, afirmou que a ideia é alcançar o maior número de pessoas de todas as camadas da população, especialmente das classes C e D, que, segundo recentes pesquisas, são as que mais compram cigarros. “Um recente estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelou que o percentual de gasto mensal com cigarro é maior entre os mais pobres e mais jovens”, disse Maltoni.
De acordo com o médico titular da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) Wesley Pereira Andrade, o tabaco também está relacionado aos cânceres de boca, orofaringe, esôfago, pâncreas e intestino. “O câncer de pulmão é o principal alvo. Entretanto, outros órgãos são afetados também.”
O especialista citou ainda o câncer de bexiga e o das vias urinárias, que também podem ser consequência do fumo, visto que boa parte do que é absorvido pelo organismo cai depois na corrente sanguínea e é excretado pelo rim. “Significa que as vias urinárias são alvo também dos efeitos do tabagismo.”
Diagnóstico precoce De acordo com Andrade, o tabagismo é responsável pela maioria dos cânceres de pulmão. “Cerca de 85% a 90% dos casos de câncer de pulmão são tabacorrelacionados. O tabagismo é um agente causal importante do câncer de pulmão.”
À Agência Brasil, o médico explicou que o câncer de pulmão tem uma peculiaridade: é difícil descobri-lo na fase inicial. Quando o câncer de pulmão é detectado, na maioria das vezes ele já está em fase mais avançada, em que a chance de cura é pequena. “A mortalidade do câncer de pulmão é muito alta”. O índice é de 80%.
Andrade informou que a chance de cura é bem reduzida (20%) porque, biologicamente, a doença é bastante agressiva. Hoje em dia, entretanto, há algumas estratégias de diagnóstico precoce. Para pacientes com mais de 55 anos que fumam muito, é recomendável fazer uma tomografia de tórax de rastreamento anual.
“A perspectiva é de tentar achar o câncer de pulmão antes de ele apresentar sintomas. Porque, quando ele dá sintomas, já está em fase avançada. A estratégia seria, então, detectar o câncer de pulmão pequenino.”
O médico explica que o exame de rastreamento não é padrão na maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil, “mas é recomendável”. Andrade defendeu a adoção dessa estratégia no país para tentar diagnosticar a doença no início, assim como é feito com os exames periódicos de mamografia para detectar o câncer de mama.
“A principal estratégia é não fumar, mas, para aqueles que fumam, a melhor estratégia é encontrar a doença em sua fase inicial, através da tomografia de tórax.”
Fumantes passivos O especialista advertiu para o risco de uma pessoa não fumante contrair câncer de pulmão por conviver com fumantes.
“Outro fator de risco é, realmente, o tabagismo passivo. Estar em um ambiente no qual as pessoas fumam, aquela pessoa que está consumindo o tabaco de forma indireta tem o risco aumentado de doenças pulmonares, inflamatórias e, também, de câncer de pulmão e outros cânceres relacionados ao tabaco.”
Tratamento Uma vez detectado precocemente, o tratamento do câncer de pulmão é cirúrgico e envolve a retirada da parte afetada do órgão. Isso pode ser complementado com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Há também a terapia-alvo, um tipo de tratamento que usa drogas para atacar especificamente as células cancerígenas e provoca pouco dano às células normais.
Para os casos avançados descobertos tardiamente, quando já existem sintomas, o tratamento é feito com medicamentos, quimioterapia e imunoterapia.
“Ou seja, quanto mais precoce se descobre o câncer de pulmão, mais estratégia cirúrgica de retirar a lesão vamos ter, com maior chance de cura. Para os casos avançados, a cirurgia já não tem papel importante.”
Sintomas Os sintomas que alertam o indivíduo para o câncer de pulmão são tosse diferente do padrão, escarros constantes, dor torácica, falta de ar e emagrecimento. Esses sintomas chamam a atenção da pessoa para que busque uma equipe médica o mais rápido possível.
Weley Pereira Andrade lembra que o tabagismo se relaciona com uma piora da qualidade de vida geral da pessoa do fumante: “Vai sentir cansaço, vai ter redução da capacidade de trabalho, da capacidade cognitiva, da atividade sexual, da chance de a mulher engravidar”.
O cirurgião conta que pacientes que descobrem a doença na fase idosa frequentemente sentem peso na consciência por não poderem sequer brincar com os netos.
Cigarro eletrônico Embora as frequentes campanhas contra o tabagismo tenham apresentado resultado no número de fumantes no país, o consumo de cigarros eletrônicos, especialmente por jovens, vem aumentando. Segundo os dados do sistema Vigitel (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, o número de brasileiros tabagistas caiu de 30%, em 2000, para 9%, em 2021.
Em contrapartida, o consumo de dispositivos eletrônicos vem aumentando no país. Uma pesquisa recente do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), realizada neste ano, mostra que 2,2 milhões de adultos (1,4%) consumiram cigarros eletrônicos até 30 dias antes do levantamento. Há seis anos, o índice entre a população era de 0,3%.
O geriatra Rafael Canineu, diretor médico de Health Analytics da Alliança Saúde, destacou a necessidade de concentrar esforços para mudar o cenário de consumo de cigarros eletrônicos no país. Ele explica que adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornar fumantes na vida adulta.
O Hospital Emílio Ribas, da SES-SP (Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo), em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), passa a recrutar, a paritr desta terça-feira (29), voluntários para um estudo sobre a eficácia da vacina contra a mpox. A análise visa entender a incidência da infecção entre pessoas que receberam ou não o imunizante, assim como o tempo de recuperação entre os dois grupos.
A vacina em questão já é autorizada pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) e já foi aplicada em pequena parte da população, sendo agora objeto de estudo para comparação da eficácia.
Para a aplicação, os voluntários deverão passar, obrigatoriamente, por uma avaliação das equipes médicas e de enfermagem do estudo, e precisarão atender aos requisitos de que tenham tido contato íntimo com indivíduos com diagnóstico suspeito, provável ou confirmado de mpox no intervalo entre 4 e 14 dias. Profissionais de saúde que acidentalmente tenham ficado expostos a amostras biológicas de pacientes diagnosticados com mpox também poderão receber a vacina.
As instituições destacam que o contato íntimo deve ter ocorrido com a pele, mucosas ou fluídos corporais de pessoas com sintomas de mpox.
Pessoas que já foram infectadas ou que tiveram contato íntimo com os pacientes há mais de 14 dias não poderão receber o imunizante. No entanto, poderão contribuir como voluntários do grupo de não vacinados.
Segundo a infectologista do Emílio Ribas, Ana Paula Rocha Veiga, investigadora principal do estudo, o acompanhamento será feito durante 12 semanas, de forma remota. Serão necessárias apenas três visitas presenciais à Unidade de Pesquisa do Emílio Ribas, com exames como coleta de sangue.
ara a maioria das pessoas comuns, a poluição atmosférica é mais perigosa do que o tabaco ou o álcool, e a ameaça é pior no Sul da Ásia, o seu epicentro global, apesar das melhoras registadas na China, afirma um estudo divulgado nesta terça-feira (29).
Apesar deste cenário, o financiamento para enfrentar este desafio é uma fração do destinado ao combate às doenças infecciosas, segundo uma pesquisa do Epic (Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago).
O seu relatório anual sobre o AQI (Índice de Qualidade do Ar) mostrou que a poluição atmosférica por partículas finas — procedentes de emissões de veículos e industriais, incêndios florestais, etc. — continua sendo a "maior ameaça externa à saúde pública". Se o mundo reduzisse permanentemente estes poluentes até o limite estabelecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), a expectativa média de vida de uma pessoa aumentaria 2,3 anos com base em dados coletados até 2021.
As partículas finas estão associadas a doenças pulmonares, cardíacas, derrames e câncer. Em comparação, o consumo de tabaco reduz a esperança de vida mundial em 2,2 anos, enquanto a desnutrição infantil e materna é responsável por uma redução de 1,6 ano.
A Ásia e a África suportam a maior carga devido a infraestruturas mais fracas e fundos mínimos para enfrentar a poluição atmosférica. Toda a África recebe menos de US$ 300 mil (R$ 1,4 milhão na cotação atual) para esse fim.
"Há uma profunda desconexão entre onde a poluição do ar é pior e onde, coletiva e globalmente, estamos mobilizando recursos para resolver o problema", disse Christa Hasenkopf, diretora de programas de qualidade do ar do Epic.
Embora exista uma associação financeira internacional chamada Fundo Global que investe US$ 4 bilhões (R$ 19 bilhões na cotação atual) por ano no HIV/aids, na malária e na tuberculose, não existe nenhum fundo equivalente para a poluição atmosférica.
"No entanto, na República Democrática do Congo (RDC) e nos Camarões, a poluição atmosférica encurta mais anos de vida de uma pessoa média do que o HIV/Aids, a malária e outras ameaças à saúde", afirma o relatório.
O Sul da Ásia é a área mais afetada em todo o mundo. Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão são, nessa ordem, os quatro países mais poluídos pelas suas médias anuais de partículas finas, que são detectadas por satélite e são definidas como partículas com diâmetro inferior a 2,5 mícrons (PM2,5).
As concentrações de poluição são então incluídas no índice AQI, que mede o impacto na expectativa de vida.
Os habitantes de Bangladesh, onde os níveis médios de PM2,5 eram de 74 microgramas por metro cúbico, ganhariam 6,8 anos de vida se fossem reduzidos aos 5 microgramas por metro cúbico estabelecidos pela OMS.
Deli, a capital da Índia, é "a megalópole mais poluída do mundo", com uma média anual de 126,5 microgramas de partículas por metro cúbico.
A China "fez progressos de destaque em sua guerra contra a poluição atmosférica" que começou em 2014. A poluição caiu 42,3% entre 2013 e 2021. Se esta tendência continuar, cada chinês poderá viver mais 2,2 anos.
Nos Estados Unidos, regulamentações como a Lei do Ar Limpo ajudaram a reduzir a poluição em 64,9% desde 1970, o que aumentou a esperança de vida dos americanos em 1,4 ano.
Mas a crescente ameaça de incêndios florestais – associada às temperaturas mais elevadas e à menor quantidade de água devido às mudanças climáticas – aumentaram a poluição atmosférica no oeste dos Estados Unidos, América Latina e Sudeste Asiático.
Por exemplo, na temporada de incêndios florestais de 2021 na Califórnia, o Condado de Plumas recebeu uma concentração média de partículas finas mais de cinco vezes superior à relatada pela OMS.
A melhoria da poluição atmosférica na América do Norte nas últimas décadas é semelhante à da Europa, mas ainda existem grandes diferenças entre a Europa Ocidental e Oriental. A Bósnia é o país europeu mais poluído.