A obesidade é um fator importante de agravamento da Covid-19 e pode aumentar em até quatro vezes o risco de morte, principalmente em homens e pessoas com menos de 60 anos, de acordo com pesquisa publicada nesta quarta-feira (12) na revista "Annals of Internal Medicine".
Os médicos e cientistas da Califórnia, nos Estados Unidos, analisaram os dados de 5.652 pacientes que tiveram o teste positivo para o novo coronavírus entre fevereiro e maio deste ano. O risco causado pela obesidade foi ajustado no estudo, com uma exclusão de fatores extras como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, entre outros. Dados de mulheres grávidas também foram excluídos da pesquisa.
Os resultados mostraram que os pacientes obesos tinham até quatro vezes mais chance de morrer pela doença, especialmente homens e menores de 60 anos com Índice de Massa Corporal (IMC) elevado. A contagem do desfecho dos casos foi feita 21 dias após o início da infecção.
"Encontramos uma associação impressionante entre o IMC e o risco de morte entre pacientes com diagnóstico da Covid-19 em um sistema integrado de saúde. Essa associação foi independente das comorbidades relacionadas à obesidade e outros fatores potenciais de confusão dos resultados", escrevem os autores.
"Nossos dados também sugerem que o risco pode não ser uniforme em diferentes populações, com o IMC elevado fortemente associado à mortalidade pela Covid-19 em adultos jovens e pacientes do sexo masculino, mas não em pacientes do sexo feminino e idosos".
Os cientistas afirmam, ainda, que o estudo é importante para que precauções extras sejam tomadas e evitem ainda mais riscos contra esse grupo. No Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde desta quarta-feira, mais de 4 mil pessoas obesas morreram com a Covid-19 desde o início da pandemia - quase metade delas com menos de 60 anos, índice mais alto para a faixa etária entre as comorbidades.
Trabalhos iniciados em maio deste ano por pesquisadores brasileiros de várias instituições científicas verificaram que soros produzidos por cavalos para o tratamento da covid-19 têm, em alguns casos, até 100 vezes mais potência em termos de anticorpos neutralizantes do vírus gerador da doença. A informação foi dada à Agência Brasil pelo coordenador do projeto, Jerson Lima Silva, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ele apresenta os resultados dos estudos hoje (13) à noite, durante simpósio sobre covid-19 na Academia Nacional de Medicina (ANM). Na ocasião, Lima Silva anunciará também o depósito de patente para garantia do processo tecnológico produzido no Brasil e a submissão de publicação no MedRxiv, que é um repositório de resultados preprint, ou seja, pré-publicados. Silva é também presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
Quando começou, o projeto visava a obter gamaglobulina purificada, material biológico mais elaborado do que soros antiofídicos e antitetânicos. Esse soro é chamado hiperimune ou gamaglobulina hiperimune porque os pesquisadores inocularam o antígeno, durante três semanas, nos plasmas de cinco cavalos do Instituto Vital Brazil (IVB), laboratório oficial do governo fluminense.
Os animais foram inoculados com a proteína S recombinante do novo coronavírus, produzida no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) e, após 70 dias, os plasmas dos equinos apresentaram anticorpos neutralizantes 20 a 100 vezes mais potentes contra o novo coronavírus do que os plasmas de pessoas que tiveram covid-19 e estão em convalescência, disse Jerson Lima Silva.
Patente
Os resultados positivos levaram ao pedido de patente, relativo ao processo de produção do soro anti-covid-19, a partir da glicoproteína da espícula (coroa) do vírus com todos os domínios, preparação do antígeno, hiperimunização dos equinos, produção do plasma hiperimune, produção do concentrado de anticorpos específicos e do produto finalizado, após a sua purificação por filtração esterilizante e clarificação, envase e formulação final. O trabalho científico envolve parceria da UFRJ, IVB, Coppe/UFRJ e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Estamos juntando a expertise de várias pessoas”.
Jerson Lima Silva afirmou que o resultado da inoculação nos cavalos foi uma grande surpresa para os pesquisadores. “Os animais nos deram uma resposta impressionante de produção de anticorpos. Inoculamos em cinco e agora estamos expandindo para mais cavalos”. Quatro dos cinco equinos responderam muito rapidamente. “O quinto (animal), assim como acontece nos humanos, teve uma resposta mais demorada, mas também respondeu produzindo anticorpos”. Os cavalos do Instituto Vital Brazil estão em uma fazenda do laboratório, no município de Cachoeiras de Macacu, região metropolitana do Rio de Janeiro.
Os estudos comprovaram que o soro produzido por cavalos para tratamento da covid-19 é superior ao feito com plasma de doentes convalescentes. “A gente vê que o nosso anticorpo do cavalo, em alguns casos, é próximo de 100 vezes mais alto. Entre 50 e 100 vezes”. Isso significa que os anticorpos produzidos pelos animais neutralizam o vírus da covid-19 com até 100 vezes mais potência, “mesmo quando a gente vai para a preparação final dos soros”.
Complementaridade
O coordenador do projeto explicou que outra vantagem do estudo é que ele é complementar às possibilidades de vacinas contra o vírus, cuja maioria se baseia na proteína da coroa. A ideia é que o soro produzido a partir dos plasmas dos equinos inoculados seja usado como tratamento, por meio de uma imunoterapia, ou imunização passiva. A vacina seria complementar.
Após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o grupo de pesquisadores vai iniciar os testes clínicos, com foco nos pacientes com diagnóstico confirmado de covid-19 que estejam internados, mas não se encontram em unidades de terapia intensiva. Os testes vão comparar quem recebeu o tratamento com quem não recebeu. “A gente está bem otimista. Mas essa é uma etapa que tem de ser feita”, disse Silva.
Ele informou que pretende firmar parcerias com outros laboratórios semelhantes que produzem soro no Brasil, localizados em São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, “porque será preciso muito material”.
O estudo indica que enquanto não há vacinas aprovadas e diante da dificuldade em atender à grande demanda em todo o mundo, o uso potencial da imunização passiva por terapia com soro deve ser considerado uma opção. A soroterapia é um tratamento bem-sucedido e usado, há décadas, contra doenças como raiva, tétano e picadas de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos, como aranha e escorpiões. Os soros produzidos pelo IVB têm excelente resultado de uso clínico, sem histórico de hipersensibilidade ou quaisquer outras eventuais reações adversas. Os estudos clínicos ocorrerão em parceria com o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).
A pesquisa tem apoio financeiro da Faperj, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Uma pesquisa realizada pela Universidade Ruhr-Bochum, na Alemanha, mostrou que alguns antissépticos bucais são capazes de inativar o novo coronavírus reduzindo a carga viral. Isso, possivelmente, pode reduzir o risco de transmissão no curto prazo.
O estudo, publicado no periódico científico The Journal of Infectious Diseases, parte de outros estudos recentes que “sugeriram a importância da garganta e das glândulas salivares como os principais locais de replicação e transmissão do vírus durante o início do covid-19”.
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Os pesquisadores testaram oito tipos de enxaguantes bucais diferentes. Os produtos foram misturados com partículas virais durante 30 segundos, depois as partículas eram aplicadas às células Vero E6, receptivas ao Sars-Cov-2.
O artigo comprovou que três das oito fórmulas testadas “reduziram significativamente a infecciosidade viral em até três ordens de magnitude.” O uso desses enxaguantes não impede a produção dos vírus na célula, mas podem diminuir a carga viral", conclui o estudo.
Mais um estudo preliminar, ainda não divulgado em revista científica, reforça a possibilidade de que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) seja transmissível pelo ar. Cientistas da Universidade da Flórida e da empresa americana "Aerosol Dynamics Inc" encontraram, no ar, pedaços do vírus que podem infectar humanos e causar a Covid-19.
Essa possibilidade já havia sido apontada em outros estudos, também preliminares, e reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas ainda não há conclusões definitivas a respeito (veja mais estudos sobre o tema mais abaixo nesta reportagem).
A pesquisa da Flórida foi divulgada numa plataforma on-line no dia 4 de agosto, mas ainda não passou por revisão de outros cientistas (a chamada "revisão por pares" ou "peer review", em inglês), etapa que é necessária para validação dos resultados e publicação deles em revista científica.
Os cientistas disseram ter achado vírus viável em amostras de ar coletadas de 2 a 4,8 metros de distância dos pacientes infectados, internados em um hospital. Essa distância é maior do que a mínima recomendada pela OMS para evitar a transmissão do vírus. A sequência genética do vírus encontrada no material coletado era idêntica àquela isolada em testes feitos em pacientes com infecção ativa, segundo o estudo.
Os pesquisadores alertaram que pacientes com a Covid-19 podem produzir gotículas que carregam o vírus (aerossóis) que podem transmitir a doença mesmo sem terem passado por procedimentos que gerem essas gotículas, como a intubação.
"Pacientes com manifestações respiratórias de Covid-19 produzem aerossóis na ausência de procedimentos geradores de aerossóis que contêm Sars-CoV-2 viável, e esses aerossóis podem servir como fonte de transmissão do vírus", afirmaram.
Outros indícios No início de julho, mais de 200 cientistas apoiaram uma carta aberta à comunidade médica internacional, incluindo a OMS, pedindo que reconhecessem o risco de transmissão da Covid-19 pelo ar.
A entidade disse que a transmissão pelo ar não podia ser descartada em alguns tipos de ambientes internos, e sugeriu uma combinação de fatores para que ela pudesse ocorrer.
Segundo a última atualização do site da organização, no dia 9 de julho, "a transmissão aérea do Sars-CoV-2 pode ocorrer durante procedimentos médicos que geram aerossóis".
"A OMS, junto com a comunidade científica, tem discutido e avaliado ativamente se o Sars-CoV-2 também pode se espalhar por meio de aerossóis na ausência de procedimentos geradores de aerossol, particularmente em ambientes fechados com pouca ventilação", diz o texto. Coronavírus: o que significa o alerta da OMS sobre transmissão aérea da Covid-19?
Semanas depois, pesquisadores da Universidade de Nebraska, também nos EUA, divulgaram o resultado de um estudo apontando que era possível localizar partículas virais do Sars-CoV-2 nos ar. Além disso, os cientistas conseguiram, pela primeira vez, multiplicar em laboratório o material do vírus que estava em suspensão. A pesquisa também foi divulgada como prévia, sem avaliação por pares.
Ainda em julho, outra prévia de pesquisa, feita por cientistas de Harvard, apontou que 59% da transmissão da Covid-19 no navio "Diamond Princess" ocorreu pelo ar, e não pelo contato com gotículas de saliva (responsável pelos outros 41%). Os cientistas recriaram o surto em um computador e observaram os padrões nas taxas de contaminação.
O "Diamond Princess" foi apontado como um dos pontos de surto da epidemia ainda em fevereiro, quando poucos países confirmavam casos de Covid-19. Com quase 4 mil passageiros, o navio chegou a ficar quase um mês de quarentena em um porto japonês. Ao todo, mais de 700 pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus na embarcação.