Maria Van Kerkhove, líder do grupo criado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para lutar contra a pandemia da covid-19, afirmou nesta terça-feira (18) que ninguém deve colocar as esperanças na imunidade coletiva como forma de frear a propagação do novo coronavírus no mundo.
"Sabemos que menos de 10% da população mundial tem evidências de anticorpos contra o SARS-CoV-2", disse a representante da agência, em entrevista coletiva. Além disso, o diretor-executivo do Departamento de Emergências da OMS, Mike Ryan, garantiu que não é possível afirmar que o planeta está perto do nível de imunidade requerido para deter a covid-19.
"Temos que nos concentrar no que podemos fazer para parar o coronavírus e não viver na ilusão de que uma imunidade coletiva nos salvará", disse o especialista.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou, nesta terça-feira (18), testes em humanos de mais uma vacina contra a covid-19. Este é o quarto imunizante a obter aval para ensaios clínicos no Brasil. As vacinas Coronavac, de Oxford e da Pfizer já realizam estudos do tipo no país.
A nova permissão foi concedida para a vacina chamada Ad26.COV2.S, produzida pela Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson. O imunizante é composto de um adenovírus geneticamente modificado, que não possui a capacidade de se replicar. Ele será um vetor para codificar a proteína S (spike), essencial para a entrada do coronavírus nas células humanas, de acordo com especialistas.
Os testes da vacina serão feitos em adultos com 18 anos ou mais. Eles receberão uma dose única da vacina ou placebo. Mas pesquisadores e voluntários não saberão quem está recebendo uma coisa ou outra.
Trata-se da última fase de testes em humanos antes de uma possível aprovação para comercialização. A partir dos resultados, será possível saber se a vacina é realmente eficaz para proteger contra a covid-19.
A previsão é que até 60 mil voluntários participem desta estapa - destes, 7 mil serão brasileiros. O recrutamento de voluntários vai acontecer nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Norte e será feito por cada centro de pesquisa responsável pelos testes locais.
Uma das perguntas mais ouvidas em tempos de pandemia é sobre a imunidade em relação à Covid-19. Quem já pegou o novo coronavírus pode se infectar novamente?
Estudos ainda não apontam para essa certeza, mas, para responder a esses e outros questionamentos, o G1 conversou com o médico infectologista André Pirajá.
Para o profissional, ainda não se sabe, de fato, se aquelas pessoas acometidas pela doença estão imunes a uma nova infecção. Por isso, todo cuidado é pouco na hora de se proteger e garantir a segurança quando o assunto é a Covid-19.
“Quanto à imunidade, de fato, ninguém sabe se existe uma resposta duradoura de que a pessoa que já pegou a doença está livre de uma nova infecção”, disse ele ao G1.
No entanto, o infectologista explicou que a chance de uma pessoa que já contraiu a Covid-19 pegar a doença novamente é pequena, mas existe. Por isso, esse paciente deve manter a rotina dos demais, sempre respeitando os protocolos sanitários.
“Algumas pessoas, claro que a minoria, podem ser submetidas a reinfecções. Por isso, enquanto não houver uma vacina, é imprescindível o uso de máscaras e do álcool em gel e a preservação do distanciamento social”, ressaltou Pirajá.
Atualmente, o Oeste Paulista contabiliza mais de 6,9 mil casos confirmados da doença, dos quais 200 pessoas morreram. Presidente Prudente (SP), onde Pirajá vive e trabalha, é a cidade desta região do Estado de São Paulo com o maior número de infectados, com 2.814 casos.
O estudante Alex Gomes, de 18 anos, é um desses casos positivos de Presidente Prudente. Há pouco mais de duas semanas, o jovem começou com alguns sintomas e procurou assistência médica na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cohab, conhecida popularmente como Cohabão. E veio a confirmação da doença.
“Eu me sentia muito mal. Tive febre e dor no corpo. Depois de alguns dias, percebi que não estava mais sentindo o cheiro e o gosto. No dia 6 [de agosto], procurei atendimento na UBS e fiz o exame. Na última quinta-feira [13], veio a confirmação de que eu estava com a Covid-19”, contou ao G1.
Já recuperado, o estudante ressaltou que na casa dele todos sempre se cuidaram, mas, mesmo assim, não ficaram imunes a doença.
“Eu sempre tomei muito cuidado. Aqui em casa álcool em gel não falta de jeito nenhum. Como tenho problema de pressão alta, faço parte do grupo de risco, por isso, tinha muito medo de pegar a Covid-19”, comentou.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nesta segunda-feira (17) o registro do medicamento Zolgensma, conhecido como o mais caro do mundo, que custa US$ 2,1 milhões (cerca de R$ 11 milhões) por paciente.
De acordo com o registro da Anvisa, o Zolgensma será usado para tratar somente crianças de até 2 anos diagnosticadas com atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, a forma mais grave da doença e que geralmente causa a morte antes dessa idade.
O neurologista pediátrico Rodrigo Reis, membro do corpo clínico da Faculdade de Medicina do ABC, explica que a AME é uma doença neuromuscular degenerativa e progressiva sem tratamento até pouco tempo.
"A AME não é reversiva e progride até atingir a musculatura respiratória do paciente", diz Reis, afirmando que isso pode mudar com o uso do Zolgensma em bebês.
"O Zolgensma modifica o DNA do paciente e cria uma cópia funcional, isso em uma única dose. Teoricamente, estamos falando em cura da AME tipo 1, apesar de muito provavelmente as crianças ainda precisarem de atenção multidisciplinar, como fisioterapia e fonoaudiologia", afirma Reis. O Zolgensma será o segundo medicamento disponível no Brasil para tratar AME, mas é o primeiro tratamento genético da doença, capaz de reparar genes do DNA do paciente.
O milionário Zolgensma não está disponível no SUS, mas o registro na Anvisa é o primeiro passo para que o governo incorpore o remédio na saúde pública.
O primeiro medicamento para AME no Brasil é o Spinraza, registrado pela Anvisa em 2017 depois de mobilizações de famílias pedindo ajuda do governo para custear o tratamento, em torno de R$3 milhões na época. Desde o ano passado, o medicamento está disponível no SUS. (veja abaixo a diferença entre os medicamentos)
Tratamentos recentes e milionários Até 2017, não existia medicamentos para tratar quem nascia com a AME no Brasil. "O paciente basicamente recebia terapias multidisciplinares para ter uma melhora da qualidade de vida", diz Reis.
Este foi o caso do Fernando Lopes Vasconcellos, que nasceu com AME tipo 1 em 1996.
"Eu recebi o diagnóstico mais horroroso do mundo. Perguntei ao médico o que poderíamos fazer pelo meu filho e ele respondeu: 'nada. Ele vai atrofiar inteiro e vai morrer antes dos dois anos'", conta Adriane Aparecida Lopes, mãe de Fernando. Aos sete meses de vida, após uma parada cardíaca, Fernando foi internado na UTI de um hospital pediátrico de Curitiba.
"Ele ficou internado por 9 anos, até morrer de uma infecção hospitalar. A verdade é que ninguém sabia o que fazer com esses pacientes naquela época", lembra Adriane. "Eu fui uma mãe de UTI." Em 2001, Adriane reuniu um grupo de pais de crianças com AME e fundou a Associação Brasileira de Atrofia Muscular Espinhal (Abrame). "Criamos a Abrame para compartilhar experiências e informações sobre a AME. Naquela época, ninguém falava da doença, estávamos no escuro", conta.
"Nós humanizamos a UTI pediátrica. Antes, meu filho estava condenado a viver olhando para uma parede branca e eu só podia vê-lo 15 minutos na parte da manhã e 15 minutos na tarde. Depois de muita briga, o Fernando aprendeu a ler, tinha brinquedos e podia me ver quando quisesse", conta Adriane.
Adriane se diz muito otimista com o registro do Zolgensma pela Anvisa. "Sou a pessoa mais feliz do mundo vendo a chegada desses remédios, saber que agora existe tratamento", diz. Pessoas com AME têm baixos níveis da proteína SMN, que possibilita os movimentos motores. Os neurônios precisam dela para conseguirem enviar ordens para os músculos através dos nervos que descem pela medula.
Tanto o Zolgensma quanto o Spinraza aumentam a produção da proteína SMN, mas somente o Zolgensma é capaz de neutralizar os efeitos da AME.
"Enquanto o Zolgensma muda o DNA do paciente, possibilitando que o corpo produza a proteína SMN a partir daí naturalmente, o Spinraza é um tratamento que faz com que o RNA produza a proteína", explica Reis.
Outra diferença entre os medicamentos, de acordo com o neurologista pediátrico, é que o uso do Spinraza "é um tratamento para o resto da vida, que precisa de uma nova dose a cada 4 meses". Já o Zolgensma é administrado apenas uma única vez e não precisa de manutenção.
Apesar de ser um medicamento novo, "Estudos demonstraram que os pacientes que receberam o Zolgensma tiveram grandes avanços nos marcos iniciais do desenvolvimento neurológico", completa o neurologista pediátrico.