Diante da identificação dos pontos de contaminação por petróleo cru na costa do nordeste brasileiro, ainda de fonte desconhecida, o Ministério da Saúde (MS) divulgou uma nota com recomendações e orientações para os profissionais de saúde, voluntários e população em geral, sobre os cuidados relacionados ao contato direto com o óleo.
De acordo com a nota, nove estados do nordeste foram afetados pelo vazamento, atingindo 88 municípios dessa região.
No documento, o MS divulgou a lista dos Contatos dos Centros de Informação Toxicológica – Nordeste (CITOX), dos nove municípios afetados para atendimentos ocasionados por intoxicações. No Piauí, o Citox é vinculado a Secretaria de Estado do Piauí, por meio da Diretoria de Vigilância Sanitária do Estado (DIVISA).
Em casos de ocorrências por intoxicação, os profissionais de saúde poderão receber atendimento por este serviço através dos números 0800 280 3661 e (86) 99466 8097.
O Citox funciona 24 horas, com médicos plantonistas preparados para orientar sobre as ocorrências relatadas pelos profissionais de saúde que atendem pacientes intoxicados nos serviços de emergência dos hospitais públicos e privados. "Para facilitar o acesso e agilizar o fluxo de informações e orientações pertinentes às intoxicações, a SESAPI disponibiliza ainda aos profissionais de saúde o contato através do celular, que permanece diretamente com o médico toxicologista, priorizando o atendimento em tempo hábil e com segurança", explicou a diretora da Divisa, Tatiana Chaves.
Um alvo terapêutico para o câncer de ovário foi identificado por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos. Em artigo publicado na revista Cancer Research, os pesquisadores descreveram a ação de uma pequena molécula de RNA (ácido ribonucléico) capaz de bloquear o processo de metástase (formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra), e reduzir o tumor quase por completo, ao silenciar a expressão de genes envolvidos na migração celular e no metabolismo energético do tumor.
A molécula conhecida como miR-450a geralmente tem baixa expressão em tumores. Porém, testes in vitro e em camundongos mostraram que, quando superexpressa (aumentada na célula), pode ter efeitos positivos no tratamento do câncer de ovário.
O estudo foi realizado no Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (FAPESP) na Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. Contou com a colaboração do professor do Laboratory of Muscle Stem Cells and Gene Regulation, do National Institutes of Health (NIH), nos Estados Unidos, Markus Hafner.
“Trata-se de uma molécula promissora. Podemos desenvolver, no futuro, com nanotecnologia, estratégias terapêuticas contra o câncer de ovário”, disse o pesquisador do Centro de Terapia Celular e coordenador do estudo, o geneticista Wilson Araújo da Silva Junior.
Por ser inicialmente assintomático, o câncer de ovário tende a ser detectado já em estágio avançado. “A principal arma no tratamento hoje é a cirurgia. A miR-450a pode ser um bom alvo terapêutico, que associado ou não a quimioterapia, pode ter o potencial de contribuir como terapia neoadjuvante [tratamento pré-cirúrgico], aumentando taxas de resposta pré-operatórias, bem como, em casos de estadiamento avançado, diminuir o risco de progressão ou morte pela doença, com possíveis efeitos colaterais menores que o da quimioterapia. Outro ponto interessante da molécula é o bloqueio da metástase”, comentou o geneticista.
Os chamados microRNAs, como o 450a, são pequenas moléculas de RNA que não codificam proteína, mas desempenham função regulatória no genoma e, por consequência, em diversos processos intracelulares. A estratégia de atuação dessas moléculas consiste em se ligar ao RNA mensageiro expresso por um gene, impedindo sua tradução em proteína.
Corte de energia
Os testes in vitro e in vivo realizados no Centro de Terapia Celular, como parte do doutorado de Bruna Muys, bióloga bolsista da FAPESP, mostraram que, quando superexpresso, o miR-450a não só reduzia o tumor como também bloqueava o processo de metástase. No entanto, era preciso identificar ainda quais genes de proliferação e invasão celular estavam sendo inibidos pela molécula.
Nesta etapa, os pesquisadores trabalharam em colaboração com o grupo do NIH. O estudo teve apoio a FAPESP por meio de uma Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE). “Depois de toda a etapa inicial e de caracterização, precisávamos descobrir quais genes de migração celular e invasão a molécula miR-450a estava regulando. Com a tecnologia que o laboratório do NIH dispõe para procura de alvos de RNA não codificadores, descobrimos que esse microRNA atua também na redução de energia da célula, levando-a à morte”, disse Silva Júnior.
Os pesquisadores identificaram que o miR-450a bloqueia genes relacionados à proteína vimentina, que integra a via de invasão celular. Atua também na desregulação dos genes da via de transição epitélio-mesenquimal – essenciais para a capacidade de migração, invasão e resistência à apoptose celular –, inibindo a ocorrência de metástase.
Em relação ao crescimento tumoral, a molécula atua em um gene mitocondrial (MT-ND2), e três do genoma nuclear (ACO2, ATP5B e TIMMDC1), envolvidos em uma das etapas da respiração celular e na produção de energia (fosforilação oxidativa).
Ainda como consequência das alterações no metabolismo energético, foi observada diminuição da taxa de glutaminólise e aumento de glicólise. De acordo com os pesquisadores, esse desequilíbrio energético pode resultar na produção ineficiente de lipídios, aminoácidos, ácidos nucleicos pelas células tumorais e, com isso, inibir as vias de sinalização associadas à migração e invasão (metástase).
Papel da placenta
A descoberta da molécula e de seu mecanismo de atuação surgiu como resultado do projeto de mestrado de Muys, também apoiado pela FAPESP e vinculado ao Centro de Terapia Celular. No estudo, mostrou-se que ocorre expressão elevada do miR-450a na placenta e baixa expressão em tumores, incluindo o câncer de ovário. A conclusão do grupo foi que, na placenta, essas moléculas estariam regulando mecanismos análogos ao desenvolvimento do tumor.
Embora a formação da placenta e dos tumores sejam processos completamente diversos, existe, até certo ponto, muita semelhança na programação genética de ambos. “A placenta cresce, invade o útero, prolifera e passa por uma vascularização – processo conhecido como angiogênese. É tudo o que o tumor precisa. Porém, diferentemente dos tumores, na placenta esses programas genéticos estão ativos de forma controlada”, disse Silva Junior.
“Por isso, nossa ideia foi buscar novos alvos terapêuticos estudando genes altamente expressos na placenta, mas que não estão ativos em tumores. Essa correlação significa que moléculas como a miR-450a deixam de regular processos biológicos importantes para o desenvolvimento do tumor. Pelos nossos achados, se um gene aparece com essas características é sinal que ele pode ser um bom alvo terapêutico”, disse.
O artigo miR-450a acts as a tumor suppressor in ovarian cancer by regulating energy metabolism, de Bruna Rodrigues Muys, Josane F. Sousa, Jessica Rodrigues Plaça, Luíza Ferreira de Araújo, Aishe A. Sarshad, Dimitrios G. Anastasakis, Xiantao Wang, Xiao Ling Li, Greice Andreotti de Molfetta, Anelisa Ramão, Ashish Lal, Daniel Onofre Vidal, Markus Hafner e Wilson A. Silva, pode ser lido pelo site.
Tratamento
Segundo o professor Silva Junior, para que uma terapia seja desenvolvida com o uso da molécula miR-450a é preciso que haja investimento e interesse da indústria farmacêutica. “A academia tem uma etapa que é mostrar os melhores biomarcadores, mas o interesse da indústria farmacêutica acelera esse processo de ter um produto que possa ser colocado no mercado, agora com a publicação deste artigo vai despertar o interesse de alguma empresa. Mas o desenvolvimento de um produto pode levar de 10 a 20 anos, temos a etapa de desenvolver o produto, mas tem todo o trabalho de regulamentar e aprovação nos órgãos competentes para realmente se transformar em um medicamento”, finalizou.
As diferenças entre o Aedes aegypti e o Culex quinquefaciatus (pernilongo comum) vão muito além da aparência. O temido transmissor da dengue, zika e chikungunya é menor que os mosquitos comuns, apresenta riscos que formam um pequeno desenho semelhante a uma taça no tórax e listas brancas na cabeça e nas pernas, além de ter asas translúcidas e um ruído praticamente inaudível para o ser humano. Embora chegue sem fazer barulho, pode fazer um grande estrago.
Enquanto o Culex tem uma coloração marrom, prefere atacar na madrugada, o Aedes é mais ativo no início da manhã e fim de tarde e costuma picar, preferencialmente, pés e pernas.
Originário do Egito, o Aedes aegypti teria partido da África para o continente americano. Tanto o macho quanto a fêmea se alimentam de substâncias que contêm açúcar, como néctar e seiva, mas o macho não produz ovos e por esse motivo não necessita de sangue. Já as fêmeas intensificam a voracidade por sangue após a fecundação para realizar o desenvolvimento completo dos ovos.
Durante a sua vida, a fêmea pode dar origem a 1.500 ovos, que são distribuídos por diversos criadouros, garantindo a dispersão e preservação da espécie. Vale lembrar que se a fêmea estiver infectada pelo vírus da dengue quando fizer a postura de ovos, as larvas filhas também podem nascer com o vírus.
Como se reproduzem e desovam? O acasalamento do Aedes aegypti acontece dentro ou ao redor das habitações, nos primeiros dias após chegar à fase adulta. As fêmeas do Aedes aegypti encontram-se aptas para a postura de ovos três dias após a ingestão de sangue e assim passam a procurar local para desovar.
Os ovos do Aedes aegypti costumam ser brancos e medem 0,4 mm de comprimento, mas escurecem após o contato com o oxigênio. Os maiores índices de infestação ocorrem em bairros com alta densidade populacional e baixa cobertura vegetal, ou seja, regiões tipicamente urbanas.
Criadouros com água limpa e parada são os preferidos para a desova, por isso manter o quintal limpo é essencial na luta contra o mosquito. Vale lembrar que os ovos são depositados nas paredes do criadouro ou bem próximo ao líquido, mas não diretamente sobre a água.
Durante uma blitz, um homem americano foi parado e ouviu do policial que teria de fazer o teste do bafômetro. Ao se recusar a passar pelo teste por não ter ingerido nada alcoólico, ele foi detido por suspeita de dirigir “sob influência de álcool”. Ao ser lavado ao hospital, os exames mostraram que o nível de álcool no sangue dele estava em 200 mg/dL – o equivalente a consumir cerca de 10 bebidas alcoólicas. O que você pensa? Bem, ele bebeu e, por medo das consequências, mentiu dizendo que não havia bebido.
Mas a verdade é que o americano, de 46 anos, não havia ingerido nenhuma bebida alcoólica naquele dia. E por que os níveis de álcool deram elevado? De acordo com estudo publicado no periódico BMJ Open Gastroentereology, ele tem a “síndrome da fermentação intestinal” (ABS, na sigla em inglês). Pessoas que sofrem com essa condição “fabricam” álcool dentro do próprio intestino.
No caso do americano, que não foi identificado, ele apresentava um crescimento anormal dos fungos Candida e Saccharomyces cerevisiae – este último é comumente usado na fabricação de bebidas alcoólicas, pois ajuda a fermentar os carboidratos para produzir alguns tipos de cerveja. Ou seja, sempre que ele ingeria carboidratos, o seu organismo produzida álcool. Por esse motivo, ele sofria com sintomas de embriaguez, incluindo mente turva, irritação, tristeza e lacunas de memória, mesmo sem ter bebido.
Diagnóstico de depressão O americano começou a experimentar alguns sintomas dessa embriaguez em 2011 depois de ser medicado com antibióticos para tratar uma lesão no polegar. Como os episódios se assemelhavam a sinais de depressão, os médicos prescreveram antidepressivos e terapia psicológica. Mas os sintomas persistiram.
Apenas mais um “bêbado” Em um outro momento, o homem foi levado ao hospital depois de caiar e sofrer um sangramento intracraniano. Na época, os exames revelaram níveis de álcool de 400 mg/dL. Ele tentou dizer que não havia ingerido bebida alcoólica, mas os médicos não acreditaram.
Depois de ser desacreditado mais uma vez no episódio da blitz, o americano decidiu procurar ajuda na internet. Durante suas pesquisas, ele encontrou o Centro Médico Universitário de Richmond, em Nova York. Lá, os pesquisadores realizaram testes para confirmar o diagnóstico de síndrome da fermentação intestinal. Para isso, a equipe deu ele uma refeição com carboidratos e monitorou os níveis de álcool em seu sangue. Oito horas depois, constatou-se 57 mg/dL.
Após seis anos convivendo com os sintomas desgastantes, em 2017, ele recebeu o diagnóstico correto. “É uma síndrome muito mais comum do que parece. Nos últimos dois anos, recebi entre 500 e 600 telefonemas de pessoas que dizem que sofrem com ela, e atualmente mantenho contato com cerca de 200 que foram diagnosticados”, disse Barbara Cordell, da Universidade de Panola, nos Estados Unidos, à BBC.
O tratamento Com o diagnóstico correto, ele foi tratado com uma combinação de terapias antifúngicas e probióticos para restaurar a sua flora intestinal, além de suspender o consumo de carboidratos. Apesar de ter tido uma recaída – por comer pizza e beber refrigerante sem autorização médica -, o crescimento dos fungos parecem ter sido controlados. Quase dois anos depois do início, ele já consegue manter uma dieta normal, embora precise conferir os níveis de álcool no sangue de vez em quando.
Casos anteriores De acordo com Barbara, que escreveu o livro Meu intestino produz álcool (em tradução livre), diversos casos vem sendo documentados ao longo das décadas, ainda que não hajam tantos diagnósticos conhecidos. “Há um caso descrito no Japão nos anos 70, mas as primeiras descrições da doença vêm do início de 1900 e até do final do século 19”, contou Cordell.
Recentemente, pesquisa realizada pelo pesquisador chinês Jing Yuan apontou para a existência de pessoas que desenvolvem excesso de gordura no fígado da mesma forma que indivíduos com problemas de alcoolismo. Isso poderia estar relacionado à síndrome.
Segundo os pesquisadores que investigaram o caso de americano, a síndrome da fermentação intestinal é uma condição pouco diagnosticada e precisa ser levada em consideração em qualquer caso em que o paciente pareça embriagado, mas nega o consumo de álcool. Isso permitiria que as pessoas recebessem o diagnóstico e o tratamento certo.