Estudo publicado na revista "Science" nesta quinta-feira (21) mostra que transtornos mentais diferentes, como depressão e déficit de atenção, dividem o mesmo grupo de genes, e por isso, podem ter a mesma causa genética. O estudo faz parte do projeto BrainStorm Consortium, iniciativa de cientistas norte-americanos que tenta medir o peso que a genética tem em distúrbios psiquiátricos.
A pesquisa envolveu pesquisadores dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Austrália e da Ásia e teve a coordenação de Ben Neale, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O primeiro autor foi Verneri Anttila, que faz o pós-doutorado no MIT.
"Este foi um esforço sem precedentes no compartilhamento de dados, de centenas de pesquisadores em todo o mundo, para melhorar nossa compreensão do cérebro" -- Verneri Anttila (MIT).
Para chegar a essas conclusões, cientistas mediram a sobreposição de fatores de risco genéticos de 25 distúrbios psiquiátricos e neurológicos. Foram analisados dados de 215.683 pacientes e de 657.164 pessoas saudáveis (grupo-controle). Também pesquisadores consideraram o quadro clínico e características de quase 1,2 milhões de indivíduos.
Além das similaridades genéticas, a comparação entre os grupos e o mapeamento de genes traz dois desdobramentos importantes:
A pesquisa reforça que pessoas com pais com distúrbios psiquiátricos têm mais chance de desenvolver condições similares;
Distúrbios psiquiátricos diferentes estão relacionados a um mesmo conjunto de genes, mesmo que os sintomas se apresentem de formas diferentes.
Autores ressaltam que a descoberta mostra a necessidade do reconhecimento das similaridades entre as condições para que novas estratégias de tratamento sejam desenvolvidas.
Sobreposição genética entre diferentes doenças
Os resultados do estudo apontam que a sobreposição genética foi mais forte entre Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtorno bipolar, depressões mais graves e esquizofrenia.
Os dados também indicaram forte sobreposição genética entre anorexia nervosa e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), bem como entre TOC e síndrome de Tourette.
Entre os distúrbios neurológicos, houve fraca sobreposição de genes. Dados do estudo mostram que a doença de Parkinson, a doença de Alzheimer, a epilepsia e a esclerose múltipla, mostraram pouca ou nenhuma correlação genética entre si e com outros distúrbios cerebrais.
Cientistas dizem ser necessário uma maior quantidade de dados para analisar ainda qual o impacto da similaridade genética entre as diferentes condições.
Eles acreditam, no entanto, que a sobreposição de genes agora apresentada exerce uma forte pressão sobre as fronteiras clínicas estabelecidas entre os distúrbios mentais.
"O alto grau de correlação genética entre muitos dos distúrbios psiquiátricos acrescenta mais evidências de que os atuais limites clínicos não refletem diferentes processos patogênicos, pelo menos no nível genético", escreveram.
A doença de Alzheimer pode ser uma consequência de infecções por vírus que aconteceram ao longo da vida, principalmente o vírus da herpes, diz estudo publicado nesta quinta-feira (21) na revista "Neuron". A pesquisa analisou três diferentes bancos de dados de cérebros e mostrou, segundo os autores, o maior conjunto de evidências registrado até agora sobre essa relação.
No total, cientistas analisaram 622 cérebros de pessoas que tiveram Alzheimer e 322 órgãos de pessoas sem a doença.
O estudo teve a participação de pesquisadores da Universidade do Estado do Arizona e da Icahn Escola de Medicina Monte Sinai, ambas nos Estados Unidos. Cientistas contaram com financiamento do NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA).
"Trata-se de um estudo publicado em uma revista importante sobre uma discussão grande na ciência: a relação entre micro-organismos e o cérebro", diz Almir Ribeiro Tavares Júnior, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais que já acompanhou estudos com Alzheimer no NIH.
O pesquisador explica que cientistas desconfiam há décadas da relação entre demências e infecções. Acredita-se que a proteína associada á doença de Alzheimer, a beta amiloide, pode ser produzida como uma reação do sistema imunológico a infecções por micro-organismos.
"A beta amiloide contribui para a morte neuronal e para uma piora na transmissão de impulsos entre neurônios" , diz o pesquisador. "Antes, pensava-se que ela era a causa da doença de Alzheimer. Hoje, sabe-se que ela é uma consequência, mas não há uma precisão da consequência exatamente do quê".
Vírus da herpes
Ao comparar cérebros de pessoas acometidas pela demência com cérebros normais, o estudo identificou altos níveis de herpesvírus humano (HHV) 6A e 7 em amostras de cérebro de pessoas que haviam tido a doença. Os cientistas encontraram fragmentos do vírus em quatro regiões diferentes do cérebro.
Os cientistas salientam, no entanto, que o estudo não comprova a relação."Seria muito difícil cravar esa relação, porque seria necessário um estudo prospectivo, com uma intervenção, o que não pode ser feito", diz o pesquisador da UFMG.
Além da presença do vírus, cientistas sequenciaram o DNA e o RNA de todos os 944 cérebros analisados e encontraram diversos mecanismos associados ao Alzheimer que podem ter sido deflagrados pelas infecções.
O número de bebês e crianças vacinadas no Brasil apresentou nova queda em 2017 e atingiu o número mais baixo do País nos últimos 16 anos. Os dados, fornecidos pelo Ministério da Saúde, apontam ainda que todas as vacinas indicadas para crianças com menos de um ano não alcançaram a meta.
Embora os valores deste ano ainda sejam preliminares, a situação já causa preocupação. O índice de crianças que receberam a dose contra a poliomelite, por exemplo, está em 77% - uma queda de 7,5% em relação a 2016 e 21% em comparação ao índice de 2015, último ano em que o número ficou acima dos 80%.
No caso da vacina quádrupla viral (tetraviral + vz), que protege contra sarampo, caxumba, rubéola, catapora e varicela, o índice está em 70%, uma queda de 8% em relação a 2016. A única vacina que apresentou leve alta no ano passado foi a da Hepatite A - o que se explica, em parte por conta do surto da doença durante o período.
Para Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, esse é um dos problemas: ver a vacina como curativa. "Vemos o aumento da busca pela imunização quando a doença aparece, mas esse cuidado deve ser de prevenção. Não devemos esperar a doença aparecer", esclarece.
Reconhecido internacionalmente por sua eficiência, o PNI foi criado em 1973 para organizar o calendário de vacinação, facilitando o controle e a erradicação de doenças que podem ser prevenidas por meio da imunização. É o caso, por exemplo, da poliomelite e do vírus autóctone da rubéola, ambos erradicados no País.
Para a especialista, outro fator importante para a queda nos índices é justamente o sucesso do PNI desde a sua criação. "O Brasil tinha índices alarmantes de mortalidade infantil antes do programa", afirma. "A geração atual tem uma saúde adequada porque foi vacinada. Mas, como não conviveu com o medo de doenças, acham que não é necessário manter a prevenção", acredita.
O custo disso, no entanto, tem se mostrado alto, já que doenças que estavam controladas em terras brasileiras voltaram a apresentar surtos. É o caso do sarampo, que já tem casos confirmados em Roraima, no Amazonas e no Rio Grande do Sul.
Carla acredita ainda que a inserção da mulher - que é a responsável por cuidar dos filhos na maioria dos casos - no mercado de trabalho criou uma nova dinâmica na rotina da família brasileira que não foi acompanhada pelo sistema de saúde. "Os horários para que a mãe leve seu filho para ser vacinado não se encaixam na agenda de quem precisa trabalhar", diz.
O problema já vem sendo discutido há algum tempo pelo Ministério da Saúde que, embora reconheça a questão, ainda não prevê uma solução principalmente por entraves financeiros na política do atual governo. "Há uma limitação de recursos", afirma Carla.
Para a infectologista Renata Coutinho, do Hospital Rios D’Or, o ganho com a imunização vai além do individual. "Existe um grande benefício coletivo, pois diminui a circulação dessas doenças na população em que essas crianças convivem", explica.
Os benefícios também incluem, menores taxas de hospitalização e de sequelas (o sarampo, por exemplo, pode provocar surdez e problemas neurológicos), além de reduzir a abstinência dos pais no trabalho. "Os ganhos acontecem em várias áreas, não só na saúde individual", reforça a médica.
A médica respondeu a algumas dúvidas bastante comuns sobre vacinação. Confira:
As vacinas são 100% seguras?
As vacinas têm seus riscos e benefícios, e, neste caso, recomenda-se a comparação entre os riscos da doença e os riscos da vacina. Exemplo, a febre amarela: o risco de ter um evento grave pela vacina é de 1 em 1 milhão de doses; e o risco de ter febre amarela selvagem grave é 10 em 100 casos - e mortalidade é muito alta. Matematicamente, é incomparável o risco da doença selvagem e o risco da vacina. Assim, a vacina tem indicação e em caso de dúvidas, deve-se consultar o médico.
Existe algum fator que impeça a criança de tomar vacina?
Dependendo da vacina, sim. Por exemplo, não devem ser vacinadas crianças que têm comorbidade específica (ocorrência de duas ou mais doenças ao mesmo tempo), imunodeficiência, portadoras de HIV, pacientes que tenham recebido transplante de órgãos ou de medula e indivíduos que sofram com doença renal crônica. Apesar de ser um procedimento seguro, sempre colocamos na balança os riscos e os benefícios. Se o risco da vacina for maior que os benefícios, ela não deve ser aplicada. O médico que acompanha a criança deve ser sempre consultado para uma orientação mais específica e segura.
Para quais reações deve-se ligar o alerta de que algo deu errado?
Placas ou pintas no corpo até 24 horas depois a vacinação, convulsão com ou sem febre e alguma dificuldade motora. Nesses casos, a criança deve ser encaminhada ao serviço de emergência e/ou ao médico pediatra o mais rápido possível.
As reações às vacinas são menos prejudiciais se comparadas aos efeitos da doença em uma criança não imunizada?
Seguramente. E os pais/responsáveis têm que compreender que algumas doenças são graves e não dependem das condições clínicas das crianças. Ou seja, não é válido o argumento de que crianças saudáveis e bem nutridas estão imunes a doenças e não precisando ser vacinadas. Já tivemos casos em que mães que tinham essa filosofia [de não vacinar] mudaram de ideia uma vez que os filhos estavam na UTI com doenças que poderiam ser evitadas com a vacinação.
Qual o melhor período do dia para vacinar as crianças?
Do ponto de vista prático, o ideal seria pela manhã, pois, assim teria o dia inteiro para observar a criança. De noite, todos estão dormindo. Mas não é um procedimento que exija o acompanhamento dos pais o dia todo, pois, geralmente, as crianças ficam bem.
Criança doente pode tomar vacina?
Não é indicado quando a criança está com febre. Em caso de dúvida, recomendamos sempre que o pediatra seja consultado.
Pode tomar mais de uma vacina em um dia?
As que são programadas para serem juntas no calendário não têm interferência. Mas, existem outras com indicação de intervalo mínimo de aplicação, como a tríplice viral e a da febre amarela. Isso tudo é respeitado pelo esquema de vacinação pública, que tenta ao máximo simplificar as vacinações, diminuindo as chances de falha de cobertura e o número de visitas da criança nos postos.
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Crianças abaixo de 5 anos, que fazem parte do público-alvo da campanha nacional de vacinação contra a gripe, são o grupo com menor índice de imunização, segundo o Ministério da Saúde.
Cerca de 35% ainda não foi vacinada, o que representa 4,4 milhões de crianças.
A campanha de vacinação termina nesta sexta-feira (22), mas o Ministério da Saúde divulgou na terça-feira (19) que, caso ainda disponham de estoque de vacinas, as cidades terão autonomia para continuar com a campanha a partir de segunda-feira (25) com o público-alvo ampliado, abrangendo também crianças de 5 a 9 anos e adultos a partir de 50.
O índice de vacinação infantil da gripe alcançou o nível mais baixo dos últimos anos e está em queda, segundo os especialistas. “Nos últimos anos tem se observado uma redução nas coberturas vacinais, uma queda que vem nos preocupando. Não lembro de um índice de vacinação infantil contra a gripe tão baixo quanto temos hoje”, afirma o pediatra infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Para ele, o fenômeno causa estranheza. “É uma surpresa, ainda não conseguimos entender o porquê”, completa Kfouri, que também é presidente do departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O pediatra Claudio Barsanti, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), ressalta que a redução da procura por vacinas para crianças se dá também em relação a outras doenças. “Temos observado a diminuição de adesão em várias vacinas, por exemplo contra varicela, a tríplice viral, a tetra viral. Isso pode elevar o risco de emergir doenças que já estão controladas”, explica.
A principal razão da baixa adesão à vacina da gripe pelas crianças seria a falta de percepção dos pais sobre o risco da doença, segundo os especialistas. “O que move, principalmente, uma pessoa a sair de casa para levar o filho para vacinar é a percepção de risco”, afirma Kfouri.
A “avalanche de notícias falsas” sobre os efeitos colaterais da vacina junto à concepção de que a gripe é uma doença “boba” acabam resultando na não-vacinação infantil, segundo Barsanti. “Os pais colocam na balança os riscos e os benefícios da vacina e, como não têm informações adequadas, acabam achando melhor não vacinar, o que é um erro”, afirma. “A vacina não passa gripe, pois é feita com vírus inativado, e a gripe não é uma doença boba, pode matar”, completa.
Este ano, em relação à gripe, 446 pessoas morreram e 2.715 casos foram registrados, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, de 9 de junho. No mesmo período do ano passado, foram 204 mortes e 1.227 casos. Ou seja: as mortes e os casos relacionados à gripe dobraram em comparação com o mesmo período do ano passado.
Horário de postos dificulta vacinação
Os pediatras chamam a atenção para outros fatores que levam a não-vacinação das crianças, como o horário de funcionamento dos postos de saúde, que impossibilita que pais que trabalhem levem seus filhos, e a chamada “pronto-socorrização da pediatria”.
“Devido à crise econômica e falta de convênio médico, os pais evitam os consultórios, tendo a oportunidade de orientação de pediatras apenas em atendimentos no pronto-socorro. Temos um aumento cada vez maior dos atendimentos de rotina em prontos-socorros.
Então, a consulta em que a gente discutiria a importância das vacinas é deixada pra trás”, explica Barsanti.
Outra questão que influencia na baixa adesão vacinal infantil é que o imunizante, de forma geral, se tornou vítima de seu próprio sucesso. “O programa nacional de vacinação infantil levou à erradicação de muitas doenças, então as pessoas não estão mais acostumadas a ouvir sobre determinada doença e não têm interesse em tomar a vacina”, afirma o presidente da SPSP.
“Não vemos mais difteria, tétano, paralisia infantil, entre outras doenças, e os próprios profissionais de saúde acabam recomendando a vacina de maneira menos enfática”, acredita o presidente da Sbim.
Inverno preocupa Ministério
O Ministério da Saúde demonstrou preocupação em relação à chegada do inverno, que tem início nesta quinta-feira (21), ressaltando ser o período de maior circulação do vírus da gripe no país.
Até o momento, a vacina da gripe é oferecida apenas a grupos prioritários que são crianças de seis meses a 5 anos, idosos acima de 60 anos, gestantes, puérperas, indígenas, profissionais de saúde, pessoas privadas de liberdade, funcionários do sistema prisional, pessoas com comorbidades, como hipertensão, diabetes e transplantados, e professores da rede pública e privada.
A escolha dos grupos prioritários, considerados mais propensos a complicações da gripe, segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A vacina, disponível de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a trivalente, que protege contra três tipos de vírus influenza: H1N1, H3N2 e influenza B.
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O vírus prevalente no país no momento é o H1N1. Do total de mortes e casos no Brasil desde o início do ano, foram registrados 284 mortes e 1.619 casos de H1N1, 87 mortes e 563 casos de H3N2, 30 mortes e 259 casos de influenza B e 45 mortes e 274 casos de influenza A.
Entre 374 pessoas que morreram em decorrência da gripe, 267, o que corresponde a mais de 70%, apresentavam pelo menos um fator de risco para complicação, a maioria adultos maiores de 60 anos com doenças do coração ou de pulmão ou diabetes mellitus.
“Não basta o governo disponibilizar 60 milhões de doses da vacina, é necessário que a população também se interesse em vacinar e perceba o risco de morte por complicações da gripe”, afirmou o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, por meio de comunicado.
Até a última segunda-feira (18), 44,8 milhões de pessoas em todo país havia sido vacinadas, segundo o ministério.
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As crianças de seis meses a cinco anos de idade e as gestantes, um dos grupos prioritários mais vulneráveis à gripe, registram o menor índice de vacinação contra a gripe, com cobertura de apenas 65% e 68,9%, respectivamente.
Já o público com maior cobertura da vacina contra a gripe, é de professores, com 95,1%, seguido pelas puérperas (94,1%), idosos (88,7%) e indígenas (88,5%). Entre os trabalhadores de saúde, a cobertura de vacinação está em 86,8%.
A região Sudeste apresenta a menor cobertura vacinal, com 74%. Em seguida estão as regiões Norte (74%), Sul (83%), Nordeste (86%) e Centro-oeste (95%).
Os Estados com menor cobertura vacinal são Rio de Janeiro e Roraima, com 61% e 56%, respectivamente. Os Estados com melhor cobertura vacinal são Goiás, Amapá, Distrito Federal, Ceará, Espírito Santo e Alagoas.