Comandando pensamentos, emoções, movimentos e todas as funções do corpo, o cérebro é um órgão essencial para a vida. Ele atua como o centro de controle do organismo, processando informações sensoriais, regulando batimentos cardíacos, respiração, sono e até o funcionamento de outros órgãos. Além disso, é responsável pela memória, raciocínio, linguagem e pela capacidade de tomar decisões.
De acordo com Hugo Sterman Neto, neurocirurgião do Hospital Vila Nova Star e São Luiz Itaim, da Rede D’Or, é comum que algumas mudanças cognitivas ocorram com o passar dos anos. No entanto, quando essas alterações começam a interferir nas atividades do dia a dia ou a causar preocupação entre familiares, é hora de procurar ajuda especializada.
Sintomas que indicam algo errado com o cérebro É importante ficar atento a sinais que podem indicar o início de doenças neurológicas. São eles:
Problema para guardar informações recentes: dificuldade em memorizar datas e eventos, passando a depender de anotações, lembretes ou da ajuda de outras pessoas;
Perda de rendimento em tarefas habituais: especialmente com números, como pagar contas ou organizar finanças, levando mais tempo que o habitual para finalizá-las;
Desorientação: ficar desorientado no tempo e no espaço, como esquecer onde está ou como chegou a determinado local;
Alterações visuais: dificuldade com a percepção de cores, formas e profundidade, o que pode atrapalhar, por exemplo, ao dirigir;
Problemas com palavras: dificuldade para encontrar palavras ou nomear objetos, com empobrecimento do vocabulário;
Esquecimento: esquecer onde deixou objetos com frequência e criar justificativas que não condizem com a realidade, como imaginar que foram roubados;
Dificuldade com dinheiro: falhas no manejo do dinheiro, como pagar valores errados;
Descuido pessoal: deixar de lado cuidados com a higiene pessoal ou a alimentação;
Isolamento: se isolar socialmente ou se afastar de atividades antes prazerosas, incluindo o trabalho;
Mudanças de humor e de personalidade: irritabilidade, apatia ou desconfiança excessiva.
Segundo Hugo Sterman Neto, esquecimentos isolados, como esquecer uma palavra ou um compromisso, podem ser normais e fazem parte do envelhecimento natural. O que merece atenção é a frequência e o impacto desses lapsos na rotina. “Quando os sintomas começam a atrapalhar o cotidiano ou a autonomia da pessoa, é fundamental buscar avaliação neurológica”, explica.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou nesta quarta (24) a atualização da Diretriz de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. O documento, que substitui a versão de 2017, endurece metas de colesterol e incorpora novos marcadores, como o colesterol não-HDL, a apolipoproteína B e a lipoproteína(a).
A principal mudança está no LDL, conhecido como “colesterol ruim”. Pela primeira vez, a diretriz brasileira inclui a categoria de risco extremo, voltada para pacientes que já tiveram múltiplos eventos cardiovasculares: para eles, a meta é de menos de 40 mg/dL.
Abaixo, veja as novas metas (note que os números máximos de LDL diminuem conforme o aumenta risco cardíaco de cada perfil paciente):
Baixo risco: menor que 115 mg/dL (antes era menor que 130 mg/dL)
Intermediário: menor que 100 mg/dL (antes era menor que 100 mg/dL)
Alto: menor que 70 mg/dL (sem alteração)
Muito alto: <50 mg/dL (antes era menor que 70 mg/dL)
Extremo: <40 mg/dL (nao existia na diretriz anterior)
O QUE É O COLESTEROL? O colesterol é um tipo de lipídio ("gordura") que compõe a membrana das células do nosso corpo e que também é precursor da formação de hormônios e vitaminas. Ele é essencial para diversas funções, mas seu excesso está associado a diversos problemas de saúde, especialmente doenças cardiovasculares, como AVC e infarto. Como definir o risco do paciente
Cardiologista e coordenador da Unidade Coronária do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (IDPC), Italo Menezes Ferreira lembra que não existe um valor ideal único de colesterol para todos.
"Primeiro é preciso estratificar o risco cardiovascular do paciente. Só a partir daí se define a meta de LDL adequada", diz Ferreira.
Para definir as metas para cada paciente, a diretriz passa a recomendar o uso de cálculos mais completos de risco cardiovascular em 10 anos, como o escore Prevent, da American Heart Association. Esse modelo considera, além de idade, sexo e histórico clínico, fatores como função dos rins e índice de massa corporal (IMC), oferecendo uma estimativa mais precisa da chance de infarto ou AVC.
Na prática, um escore funciona como uma nota que resume o risco. O médico insere dados como idade, sexo, pressão arterial e função renal, e o sistema calcula a probabilidade de infarto ou AVC em 10 anos.
Meta: evitar infartos
Cirurgião cardiovascular do Hospital Beneficência Portuguesa, Ricardo Kazunori Katayose detalha que a mudança parte do entendimento de que reduzir ainda mais o LDL pode evitar novos infartos em pacientes já comprometidos.
“Ao criar a categoria de risco extremo, a diretriz reconhece que pacientes que já tiveram múltiplos eventos precisam de metas mais agressivas”, explica.
Diagnóstico ampliado
O documento recomenda que todos os adultos façam pelo menos uma vez na vida a dosagem da lipoproteína(a), ou Lp(a), marcador associado a risco elevado de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Valores acima de 125 nmol/L ou 50 mg/dL indicam elevação significativa.
O exame, no entanto, ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) nem tem cobertura ampla nos planos de saúde.
Katayose relembra que parte das dislipidemias é de origem genética. O termo se refere a alterações nos níveis de gorduras no sangue — como colesterol e triglicerídeos — que aumentam o risco de entupimento das artérias.
“Muitas vezes o histórico familiar de infarto se explica por dificuldade de metabolizar o colesterol. Nesses casos, a detecção precoce é crucial para adotar mudanças de estilo de vida ou iniciar medicação”, afirma.
Terapia combinada como primeira escolha
Para pacientes de alto, muito alto e extremo risco, a diretriz recomenda iniciar já com terapia combinada. Entre as principais opções estão:
Estatina + ezetimiba.
Estatina + terapia anti-PCSK9.
Estatina + ácido bempedoico.
Estratégias triplas, como estatina + ezetimiba + anti-PCSK9, que podem reduzir o LDL em até 85%.
O cardiologista Italo Menezes Ferreira destaca que a mudança reflete um consenso internacional.
“Diversos estudos mostram que, quanto mais cedo e mais baixo for o controle do LDL, menor o risco de morte, infarto e AVC. Por isso, a diretriz brasileira está alinhada à europeia, que também reduziu metas recentemente”, afirma.
Ferreira acrescenta que o documento traz uma orientação mais agressiva para o pós-infarto: iniciar de imediato com estatina e ezetimiba, e, em caso de recorrência, incluir inibidores de PCSK9.
Estilo de vida segue essencial
Apesar da ampliação das opções farmacológicas, a diretriz reforça a importância de medidas não medicamentosas. Alimentação equilibrada, prática regular de exercícios, abandono do tabagismo, controle do peso e moderação no álcool seguem como pilares da prevenção.
Katayose ressalta que o aumento da expectativa de vida e os hábitos atuais — sedentarismo, alimentação rica em ultraprocessados, sono ruim e estresse — têm impacto direto nos níveis de colesterol da população.
“A vida moderna favorece a dislipidemia. Por isso, além das medicações, é preciso mudar hábitos”, defende.
Impacto esperado
A expectativa da SBC é que a atualização contribua para reduzir a mortalidade cardiovascular no país, orientando tanto a prática clínica quanto políticas públicas. Para especialistas, a diretriz chega em um momento crucial diante do crescimento da obesidade, do sedentarismo e do estresse crônico na população brasileira.
Um novo estudo apresentado na Sessão Científica Anual do American College of Cardiology trouxe dados importantes sobre a conexão entre a quantidade de sono e a saúde cardiovascular.
Com base em 16 estudos realizados entre 2000 e 2023, que envolveram mais de 1 milhão de pessoas de seis países, a pesquisa revelou como a falta de sono pode aumentar o risco de desenvolver pressão alta a longo prazo.
A falta de sono e o risco de hipertensão Os resultados do estudo mostraram que a duração inadequada do sono, especialmente quando as pessoas dormem menos de sete horas por noite, está diretamente relacionada a um risco elevado de hipertensão. Dormir menos de cinco horas por noite eleva ainda mais esse risco, tornando-o mais preocupante.
A pesquisa concluiu que a falta de sono adequado, ou seja, dormir menos de sete horas por noite, pode aumentar o risco de pressão alta em 7%.
Quando a duração do sono é reduzida para menos de cinco horas, esse risco sobe para impressionantes 11%. Para se ter uma ideia, fatores como tabagismo e diabetes elevam o risco de hipertensão em pelo menos 20%.
Impacto diferente entre homens e mulheres Uma descoberta curiosa do estudo foi a diferença entre os gêneros. As mulheres que dormem menos de sete horas por noite têm um risco 7% maior de desenvolver pressão alta em comparação com os homens.
Embora essa diferença seja estatisticamente significativa, o estudo ressalta a necessidade de mais investigações para entender as razões dessa disparidade e suas implicações para a saúde cardiovascular feminina.
Limitações do estudo Embora os dados coletados sejam valiosos, o estudo possui algumas limitações. A principal delas é que a duração do sono foi autorrelatada pelos participantes, o que pode não refletir com precisão os hábitos reais de sono.
Além disso, o estudo identificou variações nas definições de “curta duração do sono” entre os diferentes estudos analisados, sugerindo que uma padronização dessas definições seria útil para tornar as comparações mais consistentes e confiáveis.
O que fazer para dormir melhor e proteger o coração? Garantir uma boa qualidade de sono é fundamental para prevenir problemas de pressão alta. Aqui estão algumas dicas práticas para melhorar o sono e, consequentemente, a saúde cardiovascular:
Mantenha uma rotina de sono regular: Tente dormir e acordar no mesmo horário todos os dias, mesmo nos finais de semana. Evite estimulantes: Reduza o consumo de cafeína e evite refeições pesadas nas horas que antecedem o sono. Crie um ambiente adequado para dormir: Mantenha o quarto escuro, silencioso e confortável. Pratique atividades relaxantes: Leitura, meditação ou outras atividades calmantes podem ajudar a preparar o corpo e a mente para um sono tranquilo. A importância do sono na prevenção da hipertensão Este estudo sublinha a importância do sono na manutenção de uma boa saúde cardiovascular. Adotar hábitos que favoreçam uma boa noite de sono pode ser uma das estratégias mais simples e eficazes para reduzir o risco de hipertensão e promover uma vida mais saudável.
Além disso, essas práticas não só ajudam a controlar a pressão arterial, mas também melhoram a qualidade de vida de maneira geral, tornando a saúde cardiovascular mais robusta e prevenindo complicações a longo prazo.
Melhores dicas para baixar a pressão arterial A pressão arterial alta pode ser controlada com simples mudanças no estilo de vida. Alimentação saudável, prática regular de atividades físicas, controle do peso e redução do consumo de sal são fundamentais para manter a saúde do coração. Além disso, evitar álcool e tabaco e gerenciar o estresse contribuem para a redução da pressão, prevenindo complicações graves, como indicado pela Catraca Livre.
A doença de Huntington, uma condição neurodegenerativa rara, mas cruel e devastadora, foi tratada com sucesso pela primeira vez.
A informação foi antecipada pela BBC e confirmada pelo g1 nesta quarta-feira (24), após a divulgação oficial dos dados da pesquisa conduzida pela University College London (UCL) em parceria com a empresa holandesa uniQure, responsável pelo desenvolvimento da terapia genética.
De acordo com o comunicado, pacientes que receberam doses altas da terapia experimental AMT-130 tiveram uma redução de 75% na progressão da doença em três anos. Na prática, isso significa que o avanço esperado para um ano levou quatro anos para acontecer, o que pode representar décadas a mais de qualidade de vida para os pacientes.
O que mostrou o estudo O ensaio clínico de fase I/II acompanhou 29 pacientes em estágio inicial da doença. Eles receberam uma única aplicação da terapia durante cirurgia neurológica de até 18 horas.
Após três anos, os resultados indicaram que:
O avanço dos sintomas caiu em média 75% — medido pela escala clínica composta (cUHDRS). Houve 60% menos perda de habilidades funcionais do dia a dia, como andar e falar — avaliado pela escala de capacidade funcional total (TFC). Os pacientes apresentaram melhora em memória e raciocínio — segundo testes cognitivos como Stroop e SDMT. Exames mostraram menor sinal de morte de células cerebrais, com queda de 8,2% no biomarcador NfL do líquor. “Esses dados indicam que o AMT-130 tem o potencial de retardar significativamente a progressão da doença – oferecendo a tão esperada esperança a indivíduos e famílias”, diz a neurologista Sarah Tabrizi, diretora do Centro de Doença de Huntington da UCL e investigadora principal do estudo, em comunicado da uniQure. Em termos de efeitos colaterais, o tratamento foi considerado bem tolerado. Os efeitos adversos mais comuns estavam ligados ao procedimento cirúrgico de administração e foram resolvidos. Desde dezembro de 2022, não houve novos eventos graves relacionados ao medicamento.
Próximos passos A uniQure informou que pretende protocolar um pedido de registro (BLA) junto à Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, no primeiro trimestre de 2026. Caso aprovado, o medicamento poderia chegar ao mercado americano ainda no mesmo ano.
A terapia já recebeu da FDA as designações de Terapia Inovadora e de Medicina Regenerativa Avançada, mecanismos que aceleram processos regulatórios em condições graves e sem alternativas de tratamento.
O que é a doença de Huntington A doença de Huntington é causada por uma mutação no gene da huntingtina, que leva à produção de uma proteína tóxica para os neurônios. A condição provoca perda progressiva de funções motoras, cognitivas e comportamentais, resultando em dependência e morte, geralmente em até 20 anos após o início dos sintomas.
Estima-se que cerca de 75 mil pessoas convivam com a doença nos Estados Unidos, Europa e Reino Unido, enquanto centenas de milhares carregam a mutação genética e poderão desenvolvê-la no futuro.
Atualmente, não há tratamentos aprovados que retardem ou interrompam o avanço da enfermidade — apenas terapias para controle de sintomas.
A situação no Brasil No Brasil, não há estatísticas oficiais consolidadas sobre a prevalência da doença de Huntington. Estimativas citadas pelo Ministério da Saúde e pela Associação Brasil Huntington apontam que entre 13 mil e 19 mil pessoas podem ter o gene mutante que causa a doença, enquanto outras 65 mil a 95 mil estariam em risco de desenvolvê-la.
Dados do Ministério da Saúde indicam, ainda, que entre 1996 e 2015 foram registrados 801 óbitos relacionados à doença no Brasil, mais da metade deles na região Sudeste, especialmente em São Paulo.
Apesar de rara, a condição é reconhecida pela Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, criada em 2014.
No entanto, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não disponibiliza medicamentos específicos para retardar sua progressão. Hoje, os tratamentos disponíveis são apenas para aliviar sintomas, como os movimentos involuntários e alterações de comportamento.