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O uso elevado de adoçantes artificiais pode levar a consequências inesperadas para a saúde cerebral a longo prazo, apontou um estudo conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), publicado nesta quarta-feira (3), na Neurology, revista médica da American Academy of Neurology.

adoçante

A pesquisa acompanhou, durante cerca de oito anos, 12.772 adultos em todo o Brasil, com idade média de 52 anos.

Estudos anteriores mostraram a associação do uso de adoçantes artificiais com outras doenças, como doenças cardiovasculares, câncer, diabete e obesidade. Mas este foi o primeiro grande estudo, com mais de 12.000 pessoas, seguidas por mais de oito anos a mostrar a associação com o declínio cognitivo, segundo a autora e professora da disciplina de Geriatria da FMUSP, Dra. Claudia Kimie Suemoto.

Os adoçantes artificiais analisados no estudo são encontrados principalmente em alimentos ultraprocessados, como águas saborizadas, refrigerantes, bebidas energéticas, iogurtes e sobremesas de baixa caloria. Alguns também são utilizados como adoçantes de uso individual. Veja a lista:

Aspartame

Sacarina

Acessulfame-K

Eritritol

Xilitol

Sorbitol

E tagatose

A autora do estudo e professora da disciplina de Geriatria da FMUSP, Dra. Claudia Kimie Suemoto, afirma que adoçantes de baixa ou nenhuma caloria são frequentemente vistos como alternativa saudável ao açúcar, mas os resultados sugerem que alguns deles podem ter efeitos negativos sobre a saúde cerebral:

“Observamos que pessoas que consomem maiores quantidades de adoçantes tendem a apresentar um declínio cognitivo mais rápido, especialmente aquelas com diabetes. É importante destacar, porém, que o estudo não estabelece relação de causa e efeito”, detalhou Suemoto. Foram realizados testes cognitivos no início, meio e no final do estudo, para acompanhar as habilidades de memória, linguagem e raciocínio ao longo do tempo. As avaliações analisaram aspectos como fluência verbal, memória de trabalho, recordação de palavras e velocidade de processamento.

Os participantes que ingeriam maiores quantidades (média de 191 mg/dia) apresentaram um declínio cognitivo 62% mais rápido em memória e habilidades de pensamento em comparação com os que consumiam menos (média de 20mg/dia). Esse efeito corresponde a 1,6 ano de envelhecimento cerebral antecipado. Já o grupo intermediário, que consumiu uma média de 64 mg/dia, apresentou queda 35% mais rápida, o que equivale a 1,3 ano. Veja outros destaques do estudo:

Entre os adoçantes individuais, o consumo de aspartame, sacarina, acessulfame-k, eritritol, sorbitol e xilitol foi associado a declínio mais rápido na cognição geral, especialmente na memória; Para o aspartame, a quantidade analisada é equivalente a uma lata de refrigerante; Não foi encontrada associação entre o consumo de tagatose e o declínio cognitivo. Resultados por idade Pessoas com menos de 60 anos que consumiram as maiores quantidades de adoçantes apresentaram declínios mais rápidos na fluência verbal e na cognição geral, em comparação com aquelas que consumiram menores quantidades.

O diabetes foi apontado como um fator associado a um declínio mais rápido entre os participantes que consumiam maiores quantidades de adoçantes.

Suemoto destaca que as pessoas com diabetes tendem a usar adoçantes artificiais com mais frequência como substitutos do açúcar. Ela afirma que são necessárias mais pesquisas para confirmar os resultados e avaliar se outras alternativas ao açúcar, como purê de maçã, mel, xarope de bordo ou açúcar de coco, podem ser opções eficazes.

Embora o estudo tenha encontrado ligações, ele não prova que os adoçantes causam declínio cognitivo.

O estudo utilizou como base os dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), um levantamento multicêntrico que acompanha a saúde de servidores públicos de Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.

G1 saude

Foto: Adobe Stock

A curcumina é um composto ativo encontrado na Curcuma longa, uma planta comum principalmente na culinária indiana. Os suplementos a base de curcumina são populares por seus potenciais benefícios anti-inflamatórios e antioxidantes. Graças a isso, eles podem trazer benefícios como redução da dor e ser opção para tratamentos de câncer. Além disso, melhoram a saúde cardiovascular e cognitiva, prevenindo doenças neurodegenerativas — como o Alzheimer, por exemplo.

No entanto, conforme esse tipo de suplemento se tornou popular, as pessoas passaram a utilizá-lo indiscriminadamente, o que pode gerar uma série de problemas. De acordo com a geneticista e bióloga molecular, Susana Massarani, é necessário analisar individualmente cada paciente antes de dar início à suplementação.

“A curcumina é realmente um excelente suplemento, mas para algumas pessoas pode potencializar alguns problemas sérios de saúde. Tudo é uma questão de observar o paciente individualmente em relação aos genes e ao custo-benefício (não monetário, mas na saúde) para aquele paciente em determinado momento da vida. Não se pode mais fazer medicina sem levar em consideração essas particularidades”, ressalta.

Por que é preciso atenção? Para o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, biólogo e Pós PhD em Neurociências, biólogo e aluno de genômica de Susana Massarani, é preciso olhar além dos benefícios atribuídos à cúrcuma. “Temos que analisar o processo nutricional com base nas alterações genéticas que cada indivíduo pode portar”, afirma.

A especialista ainda destaca que o que encontramos em suplementos não é o alimento cúrcuma, e sim a curcumina, que é o composto bioativo, o que os torna mais concentrados. “Ingerir a cúrcuma em si é uma coisa, usar a curcumina isolada de forma indiscriminada é outra”, afirma Susana.

Os suplementos a base de curcumina estão à venda livremente com concentrações de mais de 90% da substância prometendo melhoras na circulação, cognição e desempenho sexual. Apesar disso, é fundamental ter cuidado ao consumir esses produtos sem acompanhamento médico.

Isso porque o produto pode impactar negativamente a genética do corpo para uma série de doenças. “O risco seria reduzir a expressão de genes que já seria menor no caso do paciente portar variantes que diminuem sua expressão. No caso da COMT, do MAOA e do MAOB, sua expressão adicionalmente reduzida pode aumentar a predisposição à depressão, câncer e várias condições neurológicas e psiquiátricas já que estão envolvidos nessas características”, adverte.

“O importante é a pessoa conhecer sua informação genética para que uma suplementação funcione e não se torne um tiro no pé”, finaliza o Dr. Fabiano de Abreu.

Saúde em Dia

Você já ouviu falar que o intestino é o “segundo cérebro”? Pois um novo estudo mostra que essa expressão faz ainda mais sentido do que imaginávamos. Pesquisadores descobriram que alterações no sistema digestivo podem dar sinais de alerta para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, até 15 anos antes do diagnóstico neurológico.

A pesquisa, publicada na revista Science Advances, reforça a importância de cuidarmos da saúde intestinal e metabólica. Afinal, nossa microbiota, conjunto de bactérias que vivem no intestino, conversa o tempo todo com o cérebro através do chamado eixo intestino-cérebro, uma rede de comunicação direta entre digestão e sistema nervoso central.

O estudo mais completo já feito sobre o tema Para chegar a essas conclusões, os cientistas analisaram dados clínicos, genéticos e bioquímicos de centenas de milhares de pessoas em biobancos internacionais, como o UK Biobank e o FinnGen. Essa foi a maior pesquisa já realizada sobre a conexão entre intestino e doenças neurodegenerativas.

Os resultados revelaram que condições digestivas e metabólicas comuns — como gastrite, refluxo, diabetes e até deficiência de vitamina D — estão diretamente associadas ao risco de Alzheimer no futuro.

O papel do diagnóstico precoce Hoje, o Alzheimer ainda não tem cura, mas existem medicamentos capazes de retardar a progressão da doença. Por isso, reconhecer esses sinais precoces é tão importante: quanto mais cedo o tratamento começar, mais difícil será a evolução para estágios graves.

Curiosamente, o estudo também encontrou algo inesperado: pessoas com diagnóstico de hemorroidas tinham menor risco de Alzheimer. Os cientistas acreditam que isso pode ter relação com um “viés de sobrevivência”, já que condições graves associadas às hemorroidas podem reduzir a expectativa de vida e, assim, diminuir a chance de a pessoa viver tempo suficiente para desenvolver Alzheimer.

Genética não é tudo, o estilo de vida pesa mais Outro achado surpreendente foi que, em pessoas com distúrbios digestivos ou metabólicos, a genética teve menos peso no risco de desenvolver Alzheimer ou Parkinson. Isso significa que, nesses casos, fatores ambientais e de estilo de vida parecem ter uma influência maior do que a herança genética.

Mesmo que a genética conte, nossas escolhas diárias — como alimentação, prática de exercícios e cuidados com a saúde intestinal — podem ser determinantes para evitar essas doenças.

O futuro da prevenção: modelos preditivos O grande avanço do estudo foi a criação de um modelo preditivo multimodal, que reúne dados clínicos, genéticos, bioquímicos e demográficos. Esse modelo atingiu uma precisão muito alta (AUC 0,90) para prever Alzheimer, mostrando que a ciência está cada vez mais próxima de detectar a doença em estágios muito iniciais, antes de qualquer perda cognitiva.

Entre os biomarcadores mais importantes identificados estão proteínas ligadas a danos neuronais, como a proteína ácida fibrilar glial (GFAP) e a cadeia leve do neurofilamento (NFL). Isso reforça a robustez biológica do modelo.

O estudo deixa claro que o Alzheimer não começa no cérebro, mas pode dar sinais muito antes no nosso intestino e metabolismo. Mais do que genética, nosso estilo de vida e a forma como cuidamos da saúde digestiva desempenham um papel crucial.

Minha Vida

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do mirvetuximabe soravtansina – de nome comercial Elahere. É o primeiro tratamento voltado a pacientes com câncer de ovário que não respondem mais à quimioterapia padrão à base de platina e que apresentam um marcador específico chamado receptor de folato alfa (FRα). A decisão foi anunciada na segunda-feira (1º).

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O medicamento é um conjugado anticorpo-fármaco (ADC) que combina um anticorpo voltado ao receptor FRα com uma carga quimioterápica capaz de destruir células tumorais, poupando a maior parte das células saudáveis.

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“Resistente à platina” significa que o câncer voltou em até seis meses após o fim da quimioterapia baseada nesse tipo de droga, tornando o tratamento menos eficaz. Já “FRα positivo” indica que as células tumorais apresentam uma proteína chamada receptor de folato alfa, usada como alvo pelo novo medicamento. Estima-se que cerca de um terço das pacientes com câncer de ovário tenham tumores com essa característica.

Segundo estudo conduzido pela farmacêutica AbbVie e publicado no New England Journal of Medicine, essa é a primeira terapia a demonstrar benefício em sobrevida global em comparação à quimioterapia em ensaios de fase 3 para esse grupo de pacientes.

Resultados dos estudos A aprovação se baseia no estudo clínico que envolveu mais de 450 pacientes. O ensaio mostrou que o novo medicamento reduziu em 35% o risco de progressão da doença em comparação à quimioterapia convencional.

Também houve ganho em sobrevida global: pacientes que receberam o tratamento viveram, em média, 16,5 meses, contra 12,7 meses do grupo de quimioterapia. Além disso, a taxa de resposta objetiva (redução do tumor) foi de 42%, contra 16% no grupo de comparação.

Os dados foram apresentados no congresso internacional de oncologia da ASCO (Sociedade Americana de Oncologia Clínica).

Importância do biomarcador O uso do medicamento depende de exame de imuno-histoquímica, já disponível em laboratórios brasileiros, que identifica quais pacientes têm tumores com alta expressão do receptor FRα.

“É fundamental testar o status do FRα para definir quem pode se beneficiar do tratamento”, destaca a oncologista americana Kathleen Moore, que coordenou parte do estudo.

Disponibilidade no Brasil O câncer de ovário é uma das principais causas de morte por câncer ginecológico no mundo. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima cerca de 7,3 mil novos casos por ano. A doença costuma ser diagnosticada em estágio avançado e tende a reaparecer após o tratamento inicial.

Com a aprovação da Anvisa, o Elahere passa a integrar o arsenal terapêutico disponível no país. Ainda não há definição sobre a inclusão no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) ou no Sistema Único de Saúde (SUS).

Nos Estados Unidos e na Europa, o medicamento já havia sido autorizado em 2024. No Brasil, a liberação é vista como um avanço, já que há mais de oito anos não surgia uma nova opção para pacientes com câncer de ovário resistente à platina.

'Medicamento pode mudar o cenário do câncer de ovário' Para a oncologista Graziela Dal Molin, vice-presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e diretora do International Gynecological Cancer Society (IGCS), a aprovação representa um marco inédito:

“Esse medicamento é inovador, faz parte da classe dos ADCs, um novo tipo de quimioterapia mais eficaz porque atua em receptores específicos do câncer. Isso garante maior eficácia com menos efeitos colaterais em comparação à quimioterapia tradicional. Pela primeira vez em mais de 20 anos, vimos um desfecho positivo em sobrevida global nesse cenário”, explica. Segundo ela, o mirvetuximabe foi avaliado em pacientes com tumores em estágio avançado, quando as opções terapêuticas são escassas.

“Comparado à quimioterapia convencional, o fármaco aumentou em mais de três vezes a taxa de redução das lesões tumorais. Apesar de não ser curativo —é paliativo—, proporciona redução dos tumores, menos sintomas, mais qualidade de vida e prolonga a sobrevida”, afirma. Graziela reforça que o câncer de ovário é o mais letal dos tumores ginecológicos, muitas vezes por ser diagnosticado tardiamente, já que não há exames de rastreamento eficazes como o Papanicolau ou a mamografia.

“A medicação não é indicada para todas, mas sim para as pacientes cujo tumor apresenta o receptor de folato alfa. O teste é feito no material da biópsia e, quando positivo, o medicamento se mostra eficaz em cerca de 40% dos casos”, conclui.

G1 saúde

Foto: Cancer Genome Atlas/NIH