A Pfizer e a BioNTech iniciaram um estudo internacional com 4 mil voluntárias para avaliar a segurança e a eficácia de sua vacina contra a covid-19 em mulheres grávidas saudáveis, anunciaram as empresas na quinta-feira (18).
Mulheres grávidas têm risco maior de desenvolver a covid-19 grave, e muitas autoridades de saúde pública já recomendaram que algumas mulheres em profissões de alto risco tomem vacinas contra o coronavírus mesmo sem provas de que o imunizante é seguro para elas.
O Dr. William Gruber, vice-presidente sênior de pesquisa clínica e desenvolvimento da Pfizer, disse em entrevista que a companhia pode ter os resultados até o quarto trimestre de 2021.
Gruber afirmou que os dados até agora sugerem que mulheres grávidas com a Covid-19 têm taxas mais altas de doença grave. Elas também possuem taxas mais altas de complicações da gravidez, como nascimento prematuro, quando comparadas com mulheres grávidas não infectadas pelo coronavírus.
O risco aumentado é o motivo pelo qual as agências reguladoras norte-americanas e conselheiros de saúde pública "estão interessados em conduzir o estudo - para que as pessoas possam ter as informações completas sobre o perfil de segurança", disse ele.
Na semana passada, os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA pediram maior inclusão de mulheres grávidas e lactantes em pesquisas de vacinas da covid-19.
Pesquisadores do Hospital Universitário Vall d'Hebron (VHIO) de Barcelona (Espanha), do Hospital Policlínico de Milão (Itália) e da Universidade de Basel (Suíça) identificaram que durante a gravidez a placenta exerce um efeito protetor da covid-19.
O estudo foi publicado no The Journal of Clinical Investigation e busca analisar como a placenta reage com o impacto do vírus e quais as consequências ao recém-nascido. Por meio de uma análise clínica, morfológica e molecular de um grupo de 37 gestantes que deram à luz na primeira onda da pandemia na Itália, das quais 21 tinham covid-19, observou-se que, embora o vírus fosse capaz de infectar as placentas, não houve evidência de transmissão em nenhum recém-nascido.
“Descobrimos que, embora o vírus possa infectar a placenta, em nenhum caso houve transmissão da mãe para o recém-nascido, o que sugere que a placenta pode ser uma barreira materno-neonatal eficaz contra o vírus”, destacou o chefe do grupo de Oncologia Molecular da VHIO, Paolo Nuciforo.
Os pesquisadores também destacaram que quando a carga viral na placenta está muito elevada, embora continue a atuar como barreira, pode ser gravemente afetada e influenciar o desenvolvimento do recém-nascido.
Seguindo essas linhas, o diretor do Programa de Pesquisa Pré-clínica e Translacional do VHIO e coautor do estudo, Joan Seoane, acrescentou que "ocasionalmente o covid-19 pode infectar maciçamente as células da placenta e determinar sua morte".
Além disso, os resultados da investigação mostraram que a resposta inflamatória é semelhante à observada em alguns tumores.
“Se entendermos esse sistema inflamatório poderemos desenvolver novos tratamentos”, concluiu Seoane.
Resultados de uma pesquisa conduzida no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) sugerem que pode ser arriscado reduzir de 14 para dez dias o tempo de quarentena indicado para casos leves e moderados de COVID-19, como recomendou em outubro o Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.
No estudo, apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), os pesquisadores do IMT-USP trabalharam com 29 amostras de secreção nasofaríngea de pacientes com diagnóstico confirmado por teste de RT-PCR. O material foi coletado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Araraquara no décimo dia após o início dos sintomas e, em laboratório, inoculado em culturas de células. Em 25% dos casos, o vírus presente nas amostras se mostrou capaz de infectar as células e de se replicar in vitro. Em teoria, portanto, pessoas que tivessem contato com gotículas de saliva expelidas por 25% desses pacientes no período em que o material foi coletado ainda poderiam ser contaminadas. Os dados completos da pesquisa foram divulgados na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares.
“Recomenda-se que os infectados com sintomas leves permaneçam totalmente isolados em casa, sem contato com ninguém, durante todo o período de quarentena. E há uma grande pressão para reduzir o tempo de isolamento – tanto por fatores econômicos como psicológicos. Mas, se o objetivo da quarentena é mitigar o risco de transmissão do vírus, 25% [de pacientes com vírus viável] é uma proporção muito alta”, avalia Camila Romano, coordenadora da investigação.
Como explica a pesquisadora, a quarentena de 14 dias foi estabelecida ainda no início da pandemia com base no tempo médio que leva, após o início dos sintomas, para o SARS-CoV-2 deixar de ser detectado no teste de RT-PCR. Em geral, esses primeiros estudos foram feitos com indivíduos com doença moderada ou grave, que precisaram ser hospitalizados.
“Partiu-se do princípio de que quando a carga viral é tão baixa a ponto de ser indetectável nesse tipo de exame – considerado padrão-ouro para o diagnóstico da COVID-19 – o risco de transmissão torna-se muito pequeno. Naquela época nem sequer havia testes suficientes para diagnosticar todos os casos suspeitos e menos ainda para liberar os pacientes com sintomas leves da quarentena. Então estabeleceu-se como padrão o período de 14 dias para infectados não hospitalizados”, explica Romano.
Estudos posteriores mostraram ser possível detectar o RNA viral nas vias respiratórias pelo teste de RT-PCR por um período até superior a 14 dias. Contudo, segundo esses mesmos trabalhos, após o oitavo ou nono dia de sintomas dificilmente se conseguia isolar em pacientes com quadros leves ou moderados o vírus ainda viável, ou seja, com a capacidade de se replicar em células.
Desse modo, em meados de 2020, o CDC passou a rever as recomendações referentes ao período de quarentena. Para pessoas expostas ao SARS-CoV-2 sem diagnóstico confirmado por teste molecular, estipulou-se que um isolamento de dez dias seria suficiente para reduzir o risco de transmissão para 1%. Para casos confirmados com sintomas leves ou moderados, o isolamento poderia ser interrompido dez dias após o início dos sintomas, considerando a resolução da febre por pelo menos 24 horas. Este período, entretanto, deveria ser estendido em caso de COVID-19 grave, em pacientes com algum tipo de comprometimento imunológico ou caso o infectado ainda estivesse manifestando sintomas.
“No Brasil, a regra ainda é a quarentena de 14 dias, embora alguns municípios estejam cogitando reduzir para dez dias. Em países como a Suíça, infectados com sintomas leves são liberados do isolamento após sete dias apenas”, conta Romano à Agência FAPESP. “À medida que mais estudos vêm sendo feitos em populações diferentes e com metodologias mais sensíveis, percebemos que ainda é muito cedo para ‘bater o martelo’ sobre o tempo ideal de quarentena. Estamos vendo países sendo atingidos por novas ondas da doença e cada vez menos o isolamento de 14 dias é seguido. É importante levar em conta os dados mais recentes ao repensar políticas de isolamento”, defende a pesquisadora.
Metodologia
O estudo descrito no artigo é parte de um projeto ainda em andamento, cujo objetivo é avaliar a transmissão domiciliar do SARS-CoV-2 na cidade de Araraquara. A cidade decretou lockdown no dia 15 de fevereiro, depois que foi detectada em pacientes locais a nova variante brasileira do vírus, conhecida como P1.
Graças a uma parceria com os gestores municipais, os pesquisadores do IMT-USP conseguiram contatar pacientes com sintomas leves que tiveram o diagnóstico de COVID-19 confirmado por RT-PCR em uma UBS local e não foram hospitalizados.
Foram convidadas para participar 53 pessoas com idades entre 17 e 60 anos que testaram positivo no décimo dia de sintomas. Somente 29 das 53 amostras coletadas continham material suficiente e bem conservado e puderam ser utilizadas nos experimentos.
Em um laboratório com nível 3 de biossegurança (NB3) sediado no IMT-USP, as amostras selecionadas foram incubadas com linhagens de células Vero – originárias de rim de macaco –, modelo mais usado em estudos sobre coronavírus.
“O experimento consiste em oferecer para o vírus um ambiente adequado para ele se replicar. Inoculamos a secreção nasofaríngea coletada dos pacientes nas culturas celulares e acompanhamos durante quatro ou cinco dias”, conta Romano.
Esse intervalo, segundo a pesquisadora, é suficiente para observar se o contato com o vírus provoca um efeito citopático, ou seja, se as células em cultura começam a morrer. A variação da carga viral nas linhagens foi quantificada pela mesma técnica de RT-PCR usada no diagnóstico.
Em 25% dos casos avaliados observou-se um efeito citopático significativo, acompanhado de aumento na carga viral.
“Claro que um experimento feito em laboratório não reproduz com perfeição o que ocorre na natureza. Mas nossos resultados são um indício de que pode haver partículas virais viáveis nas secreções de pacientes no décimo dia de sintomas”, afirma Romano.
Atualmente, o grupo realiza novos ensaios com o objetivo de descobrir como varia, em um mesmo paciente, a dinâmica do risco de transmissão. Amostras estão sendo coletadas diariamente, entre o nono e o 14o dia de sintomas. Esse material será inoculado em culturas celulares para ver em que medida a proporção de amostras com vírus viável diminui com o passar dos dias.
Segundo Romano, os resultados obtidos até agora reforçam a importância de manter a quarentena de 14 dias. “O isolamento, de modo geral, precisa ser intensificado neste momento. Caso contrário, o avanço lento da vacinação exercerá uma pressão seletiva sobre o vírus e favorecerá a emergência de variantes resistentes. Diminuir o isolamento neste momento é extremamente perigoso”, alerta.
A pandemia da covid-19 aumentou ainda mais a preocupação em relação ao consumo excessivo de bebidas alcóolicas, já que causa sérios danos ao sistema imunológico, abrindo caminho para o novo coronavírus. Com isso, o dia 18 de fevereiro, que marca o combate ao alcoolismo, ganha, neste ano, um significado ainda maior.
O psiquiatra Luiz Scocca, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), afirma que os alcoolistas se tornam um grupo de risco como são os idosos, diabéticos ou pessoas com doenças crônicas. “As bebidas tiram nossa arma natural contra a infecção. Os usuários estão em desvantagem e se tornam um grupo de risco”. O especialista ainda explica: “O álcool diminui vários fatores de proteção imunológicas, destrói glóbulos brancos, anticorpos e toda a série de componentes que o corpo tem como imunoprotetores.”
Para agravar a situação, a pandemia e o isolamento social aumentaram o consumo de álcool. De acordo com uma pesquisa feita pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), com mais de 12 mil pessoas em 33 países das Américas, 35% dos entrevistados com idades entre 30 e 39 anos disseram beber muito com maior frequência no período.
Os momentos de estresse, preocupação e ansiedade são marcados pela maior procura por substâncias que diminuem, mesmo que temporariamente, esse desconforto. “A frase afogar as mágoas tem um pouco de verdade. Mesmo não sendo bom beber, as pessoas consomem para sair um pouco da realidade. O que é péssimo, já que o álcool tem um efeito muito curto para esse esquecimento e gera danos muito graves ao organismo”, alerta Scocca.
Riscos para adolescentes Outra situação de atenção levantada pelo especialista é o aumento do consumo de bebidas entre os adolescentes. O psiquiatra da USP ressalta que o isolamento fez com que os pais bebessem muito mais dentro de casa e o álcool ficou mais presente na vida dos filhos. “Os adolescentes e crianças então vendo pais consumirem muito mais em casa. As pessoas aprendem com os exemplos, os pais são exemplo. Para piorar, ainda há pais que acham que se o jovem beber em casa não é problema. Dizem que ensinam os mais novos a consumirem com responsabilidade. Mas isso é um absurdo”, diz Scocca.
Os efeitos do álcool também são mais sentidos por crianças e adolescentes, o que os deixam mais suscetíveis às consequências. “Na faixa etária mais jovem, as pessoas têm menos noção dos perigos, ficam embriagados mais rápido, oque aumenta o risco de infecção de doenças graves, como covid-19, doenças sexualmente transmissíveis e até gravidez indesejada. A primeira coisa que se perde é noção de cuidados”, conta o psiquiatra.
Como diminuir o consumo? Uma das grandes dificuldades no combate ao alcoolismo, segundo o médico, é o acesso fácil às bebidas. Em qualquer estabelecimento comercial é encontrado bebidas e muitas vezes por preço bem baixos, destaca.
Para Scocca, políticas públicas mais severas contribuiriam para a conscientização e consequentemente reduziria o número de pessoas doentes. “O alcoolismo é uma doença, por enquanto, sem cura. A informação é negligenciada no Brasil. A comunicação e explicação, por meio de campanhas, ajudaria no combate. Além disso, é preciso uma fiscalização mais severa sobre a venda e preços aplicados às bebidas”, afirma.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) sugere diretrizes para o aumento de campanhas e prevenção. Além de um controle maior sobre a compra e o uso do álcool.