O médico Zhong Nanshan, um dos mais respeitados pneumologistas chineses, afirmou, em entrevista à agência de notícias estatal Xinhua, que o pico da epidemia do novo coronavírus deve ocorrer daqui a uma semana ou em até dez dias.
Até esta terça-feira (28), 4.580 casos de pessoas infectadas pelo coronavírus haviam sido registrados em todo o mundo — 99% na província de Hubei. As mortes chegaram a 106.
Alemanha e Japão confirmaram os primeiros casos de transmissão entre pessoas fora da China, algo que desde o início da epidemia, em meados de dezembro, ainda não havia ocorrido.
Em pouco mais de um mês, o número de infectados pelo novo coronavírus já é quase 60% de todo o registrado na epidemia de SARS (síndrome respiratória aguda grave), surgida na China em 2002.
Zhong Nanshan foi o responsável por descobrir a variação do coronavírus que provocou a SARS.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a classificar como "elevado" o risco internacional de contaminação pelo novo coronavírus. O novo status, divulgado nesta segunda-feira (27), é uma correção na avaliação feita anteriormente pela própria OMS. A organização esclareceu que, por um "erro de formulação", havia apontado o risco como moderado.
Até o começo da tarde desta segunda, os dados oficiais apontavam 81 mortes e mais de 2,7 mil pacientes infectados. Pela primeira vez, uma morte foi registrada em Pequim.
Em seu relatório sobre a situação, a OMS indica que sua "avaliação de risco (...) não mudou desde a última atualização (22 de janeiro): muito alto na China, alto no nível regional e em todo o mundo".
Em relatórios anteriores, o órgão das Nações Unidas apontou que o risco global era "moderado". "Foi um erro de formulação nos relatórios de 23, 24 e 25 de janeiro, e nós o corrigimos", explicou à AFP uma porta-voz da instituição com sede em Genebra. Na quinta-feira (23), a OMS considerou "muito cedo para falar de uma emergência de saúde pública de alcance internacional".
"Ainda não é uma emergência de saúde global, mas pode vir a ser" - Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS A OMS só utiliza esse termo para epidemias que exigem certa reação global, como a gripe suína H1N1 em 2009, o vírus zika em 2016 e a febre ebola, que atingiu parte da África Ocidental entre 2014 e 2016 e a República Democrática do Congo desde 2018.
Da família dos coronavírus, como o SARS, o vírus 2019-nCoV causa sintomas gripais em pessoas que o contraíram e pode levar à síndrome respiratória grave.
Desde os primeiros casos em dezembro, casos de pessoas infectadas foram registradas na Ásia, na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália. Com o surto de SARS (2002-2003), a OMS criticou Pequim por ter demorado a alertar e tentar esconder a verdadeira extensão da epidemia.
A OMS também foi criticada nos últimos anos. Considerada alarmista por alguns durante a epidemia do vírus H1N1 em 2009, foi acusada, durante a epidemia de ebola na África Ocidental (2014), de não ter calibrado a verdadeira extensão da crise.
Um grupo de cientistas do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) deverá testar vacinas contra o coronavírus em humanos em até três meses, de acordo com a agência de notícias Reuters. A vacina será desenvolvida a partir do código genético desta nova mutação do coronavírus, conhecida como 2019-nCOV.
Segundo a Reuters, o grupo responsável pelo trabalho se reuniu pela primeira vez na semana passada. Como o trabalho do grupo é desenvolver testes em humanos contra ameças à saúde, a primeira tarefa dos cientistas já se mostra como uma "prova de fogo" em meio ao avanço do coronavírus que, até esta segunda-feira (27) já havia matado 81 pessoas na China.
Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA no NIH, afirmou que o prazo estabelecido é o mais rápido já feito pelo instituto.
A vacina será desenvolvida a partir do mapeamento genético do vírus, feito por cientistas chineses.
Durante o surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) de 2003, os cientistas dos EUA levaram 20 meses para passar da sequência genética até a primeira fase de testes em humanos. Naquela época, o surto estava sob controle.
Desta vez, grupos de pesquisa em todo o mundo já estão executando planos para testar vacinas, outros medicamentos e formas preventivas que impeçam o vírus de se espalhar pelo mundo.
Abordagem múltipla
O Ministério de Ciência e Tecnologia da China lançou oito projetos de pesquisa de emergência para ajudar a lidar com o mais recente surto de coronavírus no país.
Além disso, o governo criou um sistema nacional com informações de pesquisas a respeito da doença. Imagens microscópicas eletrônicas do coronavírus, primers e sondas para detecção de vírus estão disponíveis no site, de acordo com a rede de notícias Xinhua.
Segundo a Reuters, vários grupos de cientistas e agências de saúde estão desenvolvendo métodos para "atacar" a doença, esperando que ao menos um tratamento seja aplicável.
O grupo de Fauci vai desenvolver uma vacina baseada em ácido ribonucleico (RNA), retirado de um dos picos da coroa na superfície do vírus.
Na Universidade de Queensland, na Austrália, os cientistas apoiados pelo grupo de emergência de saúde global da Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI) disseram que estão trabalhando em uma vacina que vai agir como um "grampo molecular".
A tecnologia adiciona um gene às proteínas virais para estabilizá-las. Quando injetadas no corpo, leva o organismo a pensar que está vendo um vírus vivo e, assim, cria anticorpos contra ele.
Keith Chappell, especialista na escola de química e biociências moleculares da universidade, disse que a tecnologia foi projetada como "uma abordagem de plataforma para gerar vacinas contra uma variedade de vírus em humanos e animais".
Este método já mostrou resultados promissores em testes de laboratório em outros vírus perigosos – como o Ebola e o coronavírus, que causa a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), um primo da SARS e do vírus que surgiu em Wuhan.
Os cientistas também estão recorrendo às proteínas de combate à infecção conhecidas como anticorpos monoclonais, ou mAbs, que foram desenvolvidas contra os coronavírus SARS e MERS.
A esperança é que as semelhanças com o vírus de Wuhan ofereçam sobreposição suficiente de anticorpos para ajudar as pessoas infectadas pelo surto na China.
Novo hospital Além das pesquisas, a China está construindo um hospital com 1 mil leitos para atender a casos suspeitos de infecção por coronavírus.
A obra está sendo feita na região metropolitana de Wuhan, cidade epicentro da doença.
O empreendimento segue o modelo de Pequim para tratamento de doenças respiratórias agudas, conhecidas como SARS. O hospital terá uma área de 25 mil m² e deverá ser inaugurado em 3 de fevereiro.
As autoridades esperam que o novo hospital dedicado somente a casos de pneumonia viral de origem desconhecida seja concluído em tempo recorde. Segundo a agência de notícias estatal, equipes de operários trabalham 24 horas por dia na obra. Em 2003, o hospital erguido em Pequim para os casos de SARS ficou pronto em apenas uma semana.
Um grupo de pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Itália, coordenado por um professor brasileiro, desenvolveu um composto com ação potente e seletiva contra o câncer de ovário. O estudo realizado com o novo composto à base de paládio - metal raro de alto valor comercial - demonstrou sua eficácia contra células de tumor de ovário sem afetar o tecido saudável. Além disso, testes em células tumorais indicaram que o composto age contra tumores resistentes ao tratamento mais utilizado atualmente no combate ao câncer de ovário, que é feito com um fármaco chamado cisplatina.
O trabalho foi conduzido durante a pesquisa de doutorado da professora Carolina Gonçalves Oliveira, atualmente no Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A cisplatina é um quimioterápico eficiente para tumores no ovário, mas o tratamento pode causar efeitos colaterais severos aos pacientes, afetando rins, sistema nervoso e audição. Segundo o pesquisador do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) Victor Marcelo Deflon, que coordenou o estudo, isso acontece porque a molécula não é muito seletiva, ou seja, afeta também células saudáveis.
“[O novo composto] tem alta seletividade para células de câncer, isso traz uma expectativa de menos efeitos colaterais. E ele é ativo em células de câncer resistentes à cisplatina, isso é ótimo porque é uma alternativa para tratar câncer nesses casos que são resistentes à cisplatina”, disse Deflon. “Algumas células de câncer aprendem a se defender da cisplatina, então ficam resistentes”, complementou.
Os pesquisadores identificaram o mecanismo de ação do novo composto e concluíram que há diferenças em relação à cisplatina. “O fato de ele [novo composto] atuar em células resistentes à cisplatina mostra que o mecanismo de ação dele é diferente, então a gente foi estudar qual era o mecanismo e acabou encontrando que o potencial alvo dele é uma enzima, não o DNA”, disse.
Testes clínicos
O composto à base de paládio teve ação na topoisomerase, uma enzima presente em tumores e que participa do processo de replicação do DNA, sendo um alvo potencial para quimioterápicos. “Essa enzima tem altas concentrações em células de câncer porque são células que se reproduzem muito rápido e ela está relacionada com metabolismo celular para replicação das células”, disse.
Já a cisplatina age diretamente no DNA, causando mudanças estruturais nele, impedindo a célula tumoral de copiá-lo. Deflon explicou que são alvos diferentes, mas tanto a cisplatina como o composto de paládio inibem o processo de divisão celular do tumor.
A partir dessa descoberta, os pesquisadores devem buscar o desenvolvimento de versões ainda mais eficientes do composto para obter uma molécula que possa ser testada em animais com boas chances de sucesso. Depois de testes bem-sucedidos em animais, a molécula pode ser levada para testes clínicos.
“É uma tentativa de desenvolver um fármaco que tenha menos efeitos colaterais que a cisplatina e, nesse caso, ele é mais seletivo tanto para célula que é sensível à cisplatina quanto para célula que é resistente à substância”, acrescentou.